terça-feira, 24 de maio de 2011

Amazing Grace. (Graça Maravilhosa)

Amazing Grace. (Graça Maravilhosa).

Maravilhosa graça.
Qual doce som, que salvou um infeliz como eu.
Eu estava perdido, mas agora me encontrei.
Estava cego, mas agora eu vejo.
E quando estivemos lá nos mil anos, como luz brilhando como o sol.
Não teremos menos dias para cantar e louvar a Deus, do que quando começamos como no principio.
Maravilhosa graça.
Qual doce som, que salvou um infeliz como eu.
Eu estava perdido, mas agora me encontrei.
Estava cego, mas agora eu vejo.

- Esta letra foi composta por John Newton, a melodia, no entanto é desconhecida.
Amazing Grace fala de entrega, de amor e de Deus.
Fala do homem que estava perdido e se encontrou, estava cego, mas agora pode ver.
Fala de esperança, de superação.
Fala acima de tudo de liberdade.
Podemos ouvi-la em filmes sendo tocado com gaitas de foles a musica realmente penetra em nossos ouvidos, isso acontece, pois esta é uma daquelas musicas que simplesmente não precisam de tradução.
John Newton sabia sobre o que escrevia, não porque era um exímio compositor ou instrumentista.
Ele sabia sobre o que escrevia, pois ele era capitão de um navio negreiro.
Quando se faz uma busca na biblioteca do congresso Americano, onde se encontra o original da letra, podemos ler:
Letra – John Newton.
Melodia – Desconhecido.
Existe uma historia sobre a melodia desta canção. A história nos diz que John Newton retirou a melodia dos porões dos navios, onde homens que eram livres estavam aprisionados e seriam vendidos como mercadoria.
O lamento, o murmúrio e o sofrimento daqueles que haviam sido capturados, retirados de sua pátria, de sua família e de sua liberdade se transformou em uma espécie de hino a Deus, a mudança e a liberdade.
É quando o homem se encontra que consegue ver que Deus nos criou iguais.
É quando o homem enxerga que entende o valor da liberdade concedida pelo próprio criador.
É quando nos tratamos como irmãos, que a cor da pele deixa de ser importante.
A privação de liberdade da qual falo, não aprisiona mais em porões de navios.
Nossas algemas se modernizaram, mas ainda existem com a mesma força e o mesmo lamento.
A escravidão dos vícios, dos preconceitos e das diferenças está mais latente do que nunca.
Não estamos trancafiados em porões, mas nos trancafiamos em nossas casas.
Não somos escravos que serão vendidos, pois podemos nos vender sozinhos. Vendemo-nos por um salário, por uma vingança, por um amor doentio.
Vendemos farpas, trocamos ofensas, matamos aqueles que são diferentes e no silencio da noite, antes de dormir pedimos perdão ao nosso Deus, que com certeza absoluta é bem melhor e salvador do que o Deus dos outros.
Amazing Grace. (Graça Maravilhosa).
Graça maravilhosa é ser livre e saber que todos o são.
Graça maravilhosa é enxergar que nossos problemas não são os maiores do mundo.
Que nossas necessidades podem esperar um pouco, enquanto estendo minha mão á um irmão.
Ir até a lua foi fácil, cruzar os oceanos apenas com o poder dos ventos foi simples.
Inventar remédios e descobrir a cura foi apenas uma questão de tempo e estudo.
Para criar religiões, bastou que descobríssemos que todos os homens precisam ter algo que lhes guie e um Deus para temer e louvar.
Graça maravilhosa é descobrir e sentir em nossos corações, seja você negro branco, amarelo ou azul, que esse amor é possível.
Graça maravilhosa é ter respostas para as perguntas que nunca calam.
E quando a pergunta vier, pois ela sempre vem, seja dos outros ou de nossos próprios corações.
Porque amar a todos, quando nem todos me amam?
Graça maravilhosa é poder responder...
...Porque sou livre.


P.J.S.

sábado, 14 de maio de 2011

Assassinos Profissionais.

Assassinos Profissionais.

O homem que esperava um sorriso estava sentado na mesma praça. Como já era de costume levou migalhas de pão para dar aos pombos.
Aquele sujeito admirava aquele local. No meio de uma selva de pedra com sons de buzinas que rasgavam o ar, localizava-se a velha praça. Parecia mesmo que ao entrarmos nela éramos transportados para outro lugar.
Ipês amarelos e roxos aguardavam o inverno para desabrocharem. Sim o inverno, pois é nesta estação fria e cinza que eles nos contagiam com sua beleza.
O homem que esperava um sorriso sabia disso, pois estava ali naquela praça todos os dias.
Ele conhecia cada canto daquele lugar, via a grama crescer, ouvia o canto dos pássaros no fim da tarde voltando para as arvores e conhecia de cor o canto de cada um.
O homem que esperava um sorriso não tinha muitos sonhos, ele sabia que lhe restava pouco tempo. Sua vida de maneira geral foi boa. Trabalhou, teve saúde, viveu um grande amor e criou filhos.
A vida do homem que esperava um sorriso não era completa apenas quando pensava nas pessoas, seus muitos momentos de solidão desde que ficará viúvo, lhe dava muito tempo para pensar e observar o mundo, no entanto nem sempre isso é uma dadiva.
O homem que esperava um sorriso, nunca entendeu ao certo o porquê as pessoas se comportavam de maneira tão áspera, andavam tão apresadas e tinham sempre um semblante fechado.
Ele se pegava pensando em sua infância, e lembrava-se de como ela havia sido boa, as brincadeiras com os amigos, as tardes nadando no rio e os pequenos delitos que cometia pulando cercas para apanhar frutas. É claro que seus delitos hoje já foram totalmente perdoados, afinal as frutas que ele apanhava eram uma delicia e ele não passava de um inocente e feliz moleque.
O homem que esperava um sorriso, já muito cedo teve suas mãos calejadas pelo trabalho, porém seu semblante tinha sempre um sorriso afável e sincero.
Aquela praça era maravilhosa, mas durante todos esses anos jogando migalhas aos pombos e ouvindo a melodia dos pássaros, aquele homem também observava e estudava. Depois de muito estudo ele se mostrou preocupado, pois descobriu que as pessoas não sorriam mais.
Aquele homem resolveu então que deveria fazer alguma coisa, afinal tinha tempo livre e disposição para salvar o mundo, mas por onde posso começar? – Pensava ele.
- Como posso alerta-los de que passam por esta praça, mas não a enxergam?
O homem que esperava um sorriso resolveu então, que a partir daquele dia cumprimentaria a todos que por ali passassem.
É claro que mais hora menos hora alguém se sentaria ao seu lado, e assim ele poderia salva-la. Ele poderia dizer que os pássaros cantam que os ipês daqui a pouco vão mostrar toda sua beleza e poderia convidar a pessoa á jogar migalhas para os pombos.
Sim seu plano era perfeito. No dia seguinte levantou-se bem cedo apanhou as migalhas de pão, e lá se foi salvar a humanidade de sua inanição emocional.
Sentou-se no banco de sempre e se pôs a observar.
As ruas ainda estavam vazias, mas aos poucos ele começou a ouvir uma buzina aqui e outra ali, o barulho das portas dos pequenos comércios que existiam em torno da praça estavam sendo levantadas. Toda aquela agitação era o sinal de que sua luta por um mundo melhor estava para começar.
Nosso herói estava posicionado, seu coração batia forte e sua alma estava em jubilo. Chegou mesmo a acreditar que naquela altura da vida, já não podia ser muito útil para coisa alguma, mas veja você como é o caminho desconhecido e incerto da vida, aquele homem iria salvar o mundo.
De repente ele ouve um barulho e olha para a rua, finalmente seu grande projeto teria inicio.
Ela era jovem, aparentava uns trinta anos, segurava seu casaco com força sobre o peito para se proteger do frio daquela manhã.
Nosso amigo se ajeitou no banco, esforçou-se para deixar a velha coluna arcada pelo tempo ereta, olhou em direção a jovem e disse com seu melhor sorriso – Bom Dia.
Aguardou ainda sorrindo a reação daquela que precisava ser salva, mas ela nem mesmo olhou para nosso herói.
Aos poucos seu sorriso se desfez.
Talvez o dia esteja muito frio – Ele pensou.
- Talvez tenha discutido com seu namorado. – Ele disse para si mesmo. Afinal os jovens de hoje não sabem amar e sabem menos ainda o valor desse sentimento.
O sol mostrou sua beleza e contribuiu para amenizar o frio com seus raios dourados.
Nosso amigo estava na sua nona tentativa.
O balanço do projeto era o seguinte: cinco pessoas haviam o ignorado completamente, uma pessoa lhe disse as horas, pois achou que era isso que ele desejava.
Uma pessoa não sorriu, e nem mesmo lhe retribuiu o desejo de bom dia, mas lhe deu algumas moedas que retirou de seu casaco.
Outras duas pessoas lhe responderam o bom dia como se estivessem grunhindo, mas não sorriram.
O inverno chegou, os dias se tornaram mais frios e os ipês floresceram.
Nosso herói não havia desanimado. Durante dezenas de dias prosseguiu com seu projeto. Saia pela manhã, vestia sua melhor roupa, pois não desejava ganhar moedas e ia tomar posição em seu posto.
É claro que o tempo passa para todos nós, e como não podia ser diferente o tempo de nosso herói também passou.
Em uma manhã como outra qualquer, o homem que esperava um sorriso, se colocou á postos em seu banco e aguardou. Naquela manhã notou que havia algo diferente. Seu corpo parecia mais leve, suas pernas mais ágeis e sentia-se mais feliz por dentro, apesar de seu fracasso em salvar a humanidade.
Alguém se aproximava, ele imediatamente ajeitou-se no banco e preparou seu bom dia seguido de um sorriso, porém assim que olhou na direção oposta foi desarmado.
Uma senhora empurrando um carrinho de bebê, sentou-se no banco em frente ao seu. Ele não pode sorrir ou mesmo desejar bom dia, pois dois olhos escuros e brilhantes estavam fixados nele.
Era uma criança linda.
Eles travaram um duelo de olhares por algum tempo.
Nosso herói sentiu uma dor que dilacerava seu peito. No rosto daquela criança ele viu brotar o sorriso mais belo que já havia visto desde o inicio de seu projeto. Desarmado abriu também seu sorriso e escorregando vagarosamente pelo banco com as mãos no coração entrou no mundo dos sonhos que aqueles que estão vivos não conhecem.
A senhora abandonou o carrinho e foi em seu socorro, pessoas se amontoaram em volta de nosso herói, alguns gritavam por socorro enquanto outras sacavam seus telefones do bolso para pedir ajuda.
- Pobre homem. – Alguns disseram.
- Passamos por aqui todos os dias e sempre o víamos sozinho jogando comida para os pombos. – Diziam outros.
- Como era triste a vida deste pobre velho. – Sentenciou um terceiro.
Nosso bom amigo se foi, mas deve ter de alguma maneira entendido que as pessoas não olhavam os ipês, não estavam interessadas em alimentar pombos ou ouvir passarinhos cantando.
Ele deve ter entendido que todos apenas o achavam um pobre e triste velho abandonado.
O homem que esperava um sorriso não lutou em vão, pois recebeu seu premio. O mais belo sorriso que já virá em seus últimos dias.
As pessoas não sabiam que precisavam ser salvas, pois no fundo somos assim mesmo, achamos que quem deve ser salvo é sempre o próximo.
Nosso herói não sabia que estava cercado de assassinos profissionais.
Quando não dedicamos tempo para apreciar o belo e o simples, quando não nos deixamos salvar pela visão sonhadora ou pelo desejo de liberdade de nossos irmãos, a verdade é que matamos um pouco de alguém.
Podemos com palavras rudes, com atitudes impensadas e o velho egoísmo de sempre nos tornamos o pior tipo de assassino que se possa imaginar. Podemos nos tornar assassinos que matam com palavras, com falta de amor e fraternidade. Podemos destruir sonhos e derrubar castelos, podemos aprisionar outra alma usando como desculpa um amor doentio e possessivo.
Podemos destruir uma infância inteira, ou cultivar plantações de amargura e desejo de vingança.
Podemos sentar em uma praça e sorrir, ou podemos chamar de pobres coitados aqueles que sorriem para nós.
O que não podemos jamais é esquecer de que os ipês florescem no inverno.

P.J.S.