sexta-feira, 29 de julho de 2011

As Cartas que não foram lidas - V

As cartas que não foram lidas – V

O inverno chegou.
Estou longe de casa outra vez.
O lugar onde estou é agradável e as pessoas são gentis.
Gostaria de acreditar que esta é apenas mais uma de minhas muitas viagens, sei que cada viagem me trás novas descobertas e me mostra que tenho sempre coisas para aprender, mas afasto este pensamento e assumo que esta viagem para mim significa uma reflexão.
Estou em busca de um pico de sossego.
Enquanto escrevo essas linhas o sol majestoso se põe lentamente, ouço a algazarra dos pássaros que voltam para se abrigar nas arvores.
Eles também são viajantes que todos os dias se afastam de sua segurança e da tranquilidade de seu ninho, para buscar alimento e para buscar gravetos para um novo ninho. Observando esses pássaros por algum tempo, pude ver que até mesmo essas pequenas e simples criaturas de Deus, precisam enfrentar outros pássaros maiores para defender seu espaço, seu ninho e seus ovos.
Imagino que seja assim com toda criatura vivente nesta terra.
A mãe natureza em toda sua sabedoria fez um acordo com a vida e este contrato foi assinado por Deus Pai.
Todas as criaturas da terra poderão contemplar a beleza do mundo e gozar os prazeres da vida, porém jamais estarão livres de enfrentar os perigos que esta própria vida oferece.
Vejo em uma arvore próxima uma mãe zelosa que vigia seus ovos pacientemente, logo em seguida o macho pousa no ninho com alimento.
O casal tem um jeito peculiar de se cumprimentar. Eles esfregam seus bicos um no outro como se estivessem se beijando, a fêmea se levanta do ninho e começa a saltar em volta de seu companheiro, imagino que essa seja sua maneira de dar boas vindas. O macho começa então a cantar, como se dissesse, fique tranquila eu estou bem.
Gosto de observar tais coisas, pois acredito que a natureza é sempre mais sábia do que nós os humanos.
Meu amor, enquanto te escrevo estas linhas peço a Deus que te proteja e te guarde de todo mal.
Pai abençoado proteja aquela que amo, e diga a ela em seus sonhos que vivo apenas para estar junto dela mais uma vez.
Aprendi esta velha oração Celta quando vagava pelo mundo.
Um homem simples, porém sábio, me disse que Deus em sua infinita bondade jamais deixa de interceder por aqueles que amamos, mesmo quando não podemos estar por perto para ama-los e protege-los.
Meu amor, eu sempre fui um admirador das coisas do mundo.
Gosto de contemplar o por do sol, gosto de me deitar ao relento em noites de lua cheia para ver sua beleza e observar o brilho das estrelas que é maior nesses dias.
Compreendi, no entanto, que sem sua presença tais coisas se tornam sem sabor.
Compreendi que fazemos parte do mesmo ninho. A verdade é que jamais poderei me acostumar com o fato de voltar para meu ninho e não te encontrar a minha espera.
Nesta vida breve que vivemos, nos problemas que enfrentamos para permanecermos vivos, pouca coisa faz sentido quando nossa alma não encontra o amor.
É em você que encontro minha casa, meu ninho e meu porto seguro.
É com seus beijos que mato minha sede, é em seu colo que faço minha terapia, é ao seu lado que vivo em paz.
Hoje dormirei no campo, farei uma fogueira e entoarei canções em sua homenagem.
Haverá um dia, onde os amores serão mais fáceis de serem vividos.
Haverá um dia onde os seres entenderão que o amor transcende crenças, cores, raças e opiniões alheias.
Haverá um dia em que o amor não precisará passar por tantos percalços para acontecer, pois o amor é algo para ser simples e belo.
Sonho com o dia em que o amor de conveniências seja assassinado, pois desta forma o amor ou a falta dele jamais será usado como desculpas para uma vida insana.
Sonho com o dia em que o amor vencerá pela beleza e não pela força.
O amor se mostrará em todo seu esplendor sem amarras e sofrimento, pois em todos os mundos que visitei, jamais vi o amor amarrado em correntes ou sofrendo em agonia.
As nuvens se foram e o céu esta limpo, as estrelas brilham e piscam para mim com cumplicidade.
É como se elas desejassem me dizer algo.
Talvez desejem dizer que você esta bem, que minhas orações foram ouvidas e você repousa em paz em nosso ninho.
Amo-te.


Encantamento. Cântico dos Cânticos de Salomão. Capitulo 4, versículos 9 a 16.

“Roubaste meu coração, minha irmã e minha noiva, roubaste meu coração com um só de teus olhares, com uma só joia de teu colar”.
Como são ternos teus carinhos, minha irmã e minha noiva! Tuas carícias são mais deliciosas que o vinho, teus perfumes, mais aromáticos que todos os bálsamos.
Teus lábios, minha noiva, destilam doçura; em tua língua há mel e leite. Tuas vestes têm a fragrância do Líbano.
Recanto de amor.
És um jardim fechado, minha irmã e minha noiva, um jardim fechado, uma fonte selada. Tuas plantas são um pomar de romãzeiras, com frutas deliciosas: Nele há alfena e nardo – nardo e açafrão, canela e cinamomo, toda espécie de árvores de incenso, mirra e aloés, com os melhores bálsamos. És fonte de jardins, um poço de água corrente, um ribeirão que desce do Líbano.
Desperta, vento norte! “E tu, vento sul, vem soprar em meu jardim, para que se espalhem seus aromas”.

P. J. S.