A
Obra de Deus.
Por algum tempo hesitei sobre a publicação desse
texto.
Existem milhares de pessoas que todos os dias
apresentam suas religiões como salvadoras, apaziguadoras e solução de crises
financeiras ou familiar.
O que eu poderia oferecer com mais um texto falando
sobre religião e religiosidade?
Talvez nada, mas um pastor pelo qual possuo profundo
respeito, por sua posição, por sua religião e por ser semelhante a mim no
tocante ao que está escrito no livro sagrado - “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26), me despertou para a Obra de Deus.
Por motivos óbvios de respeito, não citarei aqui
nomes de pastores ou mesmo denominações religiosas, respeito esse, que dou de
graça, mas que nunca recebi em troca tanto do referido pastor como de sua
igreja.
Tudo começou a mais ou menos três meses atrás, tenho
dois bons amigos que fazem parte de certa igreja, minha admiração e respeito
por todos eles não esta em jogo e muito menos poderá ser questionada, uma vez
que deixo publico esse texto com autorização e apoio dos mesmos.
Sou voluntario em alguns trabalhos sociais, divido
isso com poucos amigos, mas gosto de poder ajudar e ser útil.
Ajudo, pois jamais saberemos quando seremos os
ajudados, tento ser útil, pois acredito que ninguém precise de muito para fazer
um pouco.
Os lugares, pessoas e instituições não serão
citados, pois já são desrespeitados e abandonados o suficiente pela sociedade,
pelo poder publico e por todos que foram criados a “Imagem e Semelhança” do Altíssimo.
Todas estas instituições de apoio (Prefiro Chama-las
Assim) necessitam de ajuda. Seja comida, roupas, remédios ou mesmo alguém que
apenas vá até lá dar um oi ou ouvir um desabafo.
Não acredito apenas no bem ao próximo, não visto
nenhuma carapuça construída para anjos de plantão, apenas penso em mim mesmo
como alguém que também precisa ser ajudado.
Quando ouço, esqueço-me de meus próprios problemas.
Quando vejo a maneira como algumas famílias são
despedaçadas por causa de drogas, álcool, violência física e sexual. Tomo isso
como lição para que as mesmas armadilhas e vícios um dia não me tornem um
péssimo pai ou esposo.
Mas vamos falar de dinheiro, esse maldito e desejado
vil metal que serve de consolo, enobrece pessoas que não possuem nobreza alguma
e por vezes compra até mesmo respeito.
Meus bons amigos resolveram que ajudariam com a compra
de produtos que incluem colchão d’agua, roupas de cama e objetos de higiene
pessoal.
Falo aqui de portadores de AIDS, para que fique
claro o uso de colchão d’agua e a necessidade constante da troca de roupas de
cama.
O tratamento para portadores dessa doença a muito
custo e burocracia é oferecido pelo SUS, no entanto o que se consegue é apenas
o medicamento, pois coisas simples que fazem parte de nosso dia a dia, como uma
pasta de dentes, uma fronha limpa, uma boa alimentação ou mesmo uma higiene
correta dos ferimentos causados pela doença ficam relegados ao próprio doente, família
ou instituições de apoio.
Para que as pessoas envolvidas pudessem ajudar, foi
feita uma lista e distribuída entre todos para que assim cada um comprasse
aquilo que era possível e o que estivesse ao seu alcance. Devo aqui agradecer
pelos esforços e pelo sucesso dessa pequena campanha, pois a maior parte do que
era preciso foi adquirida.
Meus bons amigos, no entanto para isso, deixaram no
referido mês de recolher o dizimo para sua igreja, e foi ai que a “Obra de Deus”
se manifestou.
Existe o que se chama nas igrejas de dizimista fiel,
aquele que contribui mensalmente, diferente daquele que contribui
esporadicamente ou quando deseja.
Existem também diferenças de valores, pois aquele
que contribui quando o deseja, contribui com o valor que lhe é razoável ou possível,
já o chamado dizimista fiel recebe um carne com valores fixos e pagamentos
mensais.
Dessa maneira é possível saber quem esta em dia com
seu carne ou não.
Inquiridos quanto ao não pagamento da parcela
naquele mês, a resposta foi sincera e objetiva – Ajudamos outra instituição
esse mês.
O referido pastor deu então um sermão no qual
explicou que isso era inadmissível, que não se podia tirar da Obra de Deus aquilo
que lhe pertencia.
Em seu discurso incluiu a clausura contratual entre
Deus e o Homem, onde cabe o argumento de que só podemos receber de Deus aquilo
que damos a ele.
Em seu discurso acrescentou a observação que a Obra
de Deus deve cuidar dos seus. Nesse ponto preciso confessar minha ignorância,
pois por mais que leia o livro sagrado não consegui até o momento descobrir
quem são os meus.
Seu discurso se inflamou quando soube para que fins
o dinheiro destinado a Obra de Deus havia sido empregado, pois segundo ele,
pessoas que sofrem desta doença cometeram pecados de fornicação, eram pessoas
promiscuas e que estavam fora do caminho da salvação.
Tivemos algumas divergências de opinião. Meu maior
desejo é acreditar que essa com certeza não é a opinião da maioria dos seus
fieis.
Particularmente possuo a minha fé em Deus, embora
não frequente templos religiosos, mas imagino em minha vasta ignorância que a
Obra de Deus é feita todos os dias quando alimentamos os famintos, quando
agasalhamos os que sentem frio, quando medicamos os enfermos ou mesmo quando
perdoamos as falhas de nossos semelhantes.
Em sua grande maioria as religiões Ocidentais
possuem a figura de Jesus Cristo como centro de sua doutrina, e as palavras que
citei acima, foram atribuídas a ele.
“Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos com fome, e te demos de comer”? Ou com sede, e te demos de
beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou
nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos
ver-te?
“E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos
digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o
fizestes”. (Mateus 25:37-40).
Acredito que a Obra de Deus deve habitar mais dentro
de cada um de nós, do que em nossas convicções religiosas.
Quando os homens se dividem pela religião se afastam
da OBRA DE DEUS.
Caro pastor. Justamente por não o conhecer intimamente
usarei de minha liberdade para deixar não um conselho, mas apenas uma
observação.
Quando nos misturamos ao mundo e ajudamos e somos
ajudados somos mais filhos de Deus.
Quando somos pobres e dividimos o pouco que possuímos
nos tornamos ricos.
Quando não conseguimos olhar de perto os pecados e
falhas alheias, enxergamos com mais clareza os nossos próprios.
P. J.