segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Obra de Deus.

A Obra de Deus.

Por algum tempo hesitei sobre a publicação desse texto.
Existem milhares de pessoas que todos os dias apresentam suas religiões como salvadoras, apaziguadoras e solução de crises financeiras ou familiar.
O que eu poderia oferecer com mais um texto falando sobre religião e religiosidade?
Talvez nada, mas um pastor pelo qual possuo profundo respeito, por sua posição, por sua religião e por ser semelhante a mim no tocante ao que está escrito no livro sagrado - “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1:26), me despertou para a Obra de Deus.
Por motivos óbvios de respeito, não citarei aqui nomes de pastores ou mesmo denominações religiosas, respeito esse, que dou de graça, mas que nunca recebi em troca tanto do referido pastor como de sua igreja.
Tudo começou a mais ou menos três meses atrás, tenho dois bons amigos que fazem parte de certa igreja, minha admiração e respeito por todos eles não esta em jogo e muito menos poderá ser questionada, uma vez que deixo publico esse texto com autorização e apoio dos mesmos.
Sou voluntario em alguns trabalhos sociais, divido isso com poucos amigos, mas gosto de poder ajudar e ser útil.
Ajudo, pois jamais saberemos quando seremos os ajudados, tento ser útil, pois acredito que ninguém precise de muito para fazer um pouco.
Os lugares, pessoas e instituições não serão citados, pois já são desrespeitados e abandonados o suficiente pela sociedade, pelo poder publico e por todos que foram criados a “Imagem e Semelhança” do Altíssimo.
Todas estas instituições de apoio (Prefiro Chama-las Assim) necessitam de ajuda. Seja comida, roupas, remédios ou mesmo alguém que apenas vá até lá dar um oi ou ouvir um desabafo.
Não acredito apenas no bem ao próximo, não visto nenhuma carapuça construída para anjos de plantão, apenas penso em mim mesmo como alguém que também precisa ser ajudado.
Quando ouço, esqueço-me de meus próprios problemas.
Quando vejo a maneira como algumas famílias são despedaçadas por causa de drogas, álcool, violência física e sexual. Tomo isso como lição para que as mesmas armadilhas e vícios um dia não me tornem um péssimo pai ou esposo.
Mas vamos falar de dinheiro, esse maldito e desejado vil metal que serve de consolo, enobrece pessoas que não possuem nobreza alguma e por vezes compra até mesmo respeito.
Meus bons amigos resolveram que ajudariam com a compra de produtos que incluem colchão d’agua, roupas de cama e objetos de higiene pessoal.
Falo aqui de portadores de AIDS, para que fique claro o uso de colchão d’agua e a necessidade constante da troca de roupas de cama.
O tratamento para portadores dessa doença a muito custo e burocracia é oferecido pelo SUS, no entanto o que se consegue é apenas o medicamento, pois coisas simples que fazem parte de nosso dia a dia, como uma pasta de dentes, uma fronha limpa, uma boa alimentação ou mesmo uma higiene correta dos ferimentos causados pela doença ficam relegados ao próprio doente, família ou instituições de apoio.
Para que as pessoas envolvidas pudessem ajudar, foi feita uma lista e distribuída entre todos para que assim cada um comprasse aquilo que era possível e o que estivesse ao seu alcance. Devo aqui agradecer pelos esforços e pelo sucesso dessa pequena campanha, pois a maior parte do que era preciso foi adquirida.
Meus bons amigos, no entanto para isso, deixaram no referido mês de recolher o dizimo para sua igreja, e foi ai que a “Obra de Deus” se manifestou.
Existe o que se chama nas igrejas de dizimista fiel, aquele que contribui mensalmente, diferente daquele que contribui esporadicamente ou quando deseja.
Existem também diferenças de valores, pois aquele que contribui quando o deseja, contribui com o valor que lhe é razoável ou possível, já o chamado dizimista fiel recebe um carne com valores fixos e pagamentos mensais.
Dessa maneira é possível saber quem esta em dia com seu carne ou não.
Inquiridos quanto ao não pagamento da parcela naquele mês, a resposta foi sincera e objetiva – Ajudamos outra instituição esse mês.
O referido pastor deu então um sermão no qual explicou que isso era inadmissível, que não se podia tirar da Obra de Deus aquilo que lhe pertencia.
Em seu discurso incluiu a clausura contratual entre Deus e o Homem, onde cabe o argumento de que só podemos receber de Deus aquilo que damos a ele.
Em seu discurso acrescentou a observação que a Obra de Deus deve cuidar dos seus. Nesse ponto preciso confessar minha ignorância, pois por mais que leia o livro sagrado não consegui até o momento descobrir quem são os meus.
Seu discurso se inflamou quando soube para que fins o dinheiro destinado a Obra de Deus havia sido empregado, pois segundo ele, pessoas que sofrem desta doença cometeram pecados de fornicação, eram pessoas promiscuas e que estavam fora do caminho da salvação.
Tivemos algumas divergências de opinião. Meu maior desejo é acreditar que essa com certeza não é a opinião da maioria dos seus fieis.
Particularmente possuo a minha fé em Deus, embora não frequente templos religiosos, mas imagino em minha vasta ignorância que a Obra de Deus é feita todos os dias quando alimentamos os famintos, quando agasalhamos os que sentem frio, quando medicamos os enfermos ou mesmo quando perdoamos as falhas de nossos semelhantes.
Em sua grande maioria as religiões Ocidentais possuem a figura de Jesus Cristo como centro de sua doutrina, e as palavras que citei acima, foram atribuídas a ele.
“Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer”? Ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? Ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
“E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mateus 25:37-40).
Acredito que a Obra de Deus deve habitar mais dentro de cada um de nós, do que em nossas convicções religiosas.
Quando os homens se dividem pela religião se afastam da OBRA DE DEUS.
Caro pastor. Justamente por não o conhecer intimamente usarei de minha liberdade para deixar não um conselho, mas apenas uma observação.
Quando nos misturamos ao mundo e ajudamos e somos ajudados somos mais filhos de Deus.
Quando somos pobres e dividimos o pouco que possuímos nos tornamos ricos.
Quando não conseguimos olhar de perto os pecados e falhas alheias, enxergamos com mais clareza os nossos próprios.


P. J.