sexta-feira, 22 de março de 2013

Todo mundo é inocente, até que se prove o contrário.


Todo mundo é inocente, até que se prove o contrário.

Atenção esse texto é baseado em fatos reais, o nome das pessoas envolvidas será preservado por motivos de segurança.
Em uma pequena investigação que durou apenas alguns dias, descobri uma personagem que chamaremos de “B”.
“B” é uma boa pessoa, mas pesa sobre ela, a acusação de plagio. “B” em seus dias de devaneios e loucura, subia em sua cama, e com uma escova de cabelos em punho cantava ilariê e imitava a Xuxa.
“B” sabe que seus dias de loucura passaram, e hoje cumpre pena como recepcionista em horário comercial, mas ainda sonha em aprender jaz e ser bailarina.
“S” nosso segundo personagem, não quer ser identificado, pois mesmo depois de anos, sua consciência ainda pesa, ao lembrar que com um cabo de vassoura, saia pelo jardim de sua mãe golpeando as plantas, gritando pelos poderes de greyscow e fazendo-se passar por He-Man.
Encontrei também, durante minhas pesquisas o jovem meliante “W”.
A história de “W” é algo que beira o absurdo, numa noite escura em uma rua deserta, depois de se certificar que ninguém nos observava, ele me confessou que durante anos roubou giz de sua professora para desenhar amarelinha no pátio da escola.
“W” diz que sua professora sempre dava pela falta do giz, mas nunca desconfio que fosse ele o gatuno, pois “W” se sentava na primeira fileira de carteiras, e por isso estava acima de qualquer suspeita.
Hoje “W“, trabalha como plantonista em um famoso hospital, mas revela que seu sonho ainda é roubar centenas de lápis coloridos e virar desenhista.
Para “J” nosso quarto personagem, a vida se tornou uma pergunta sem resposta, pois em seus dias de policia e ladrão, ele era sempre o policial que perseguia os bandidos maus, depois de encontrá-los, derrotava todos com sua super. e eficiente arma, que era feita de um graveto de árvore.
“J” se lembra com certo receio, que quando a perseguição terminava o bandido ressuscitava, e todos passavam horas debatendo sobre se a bala pegou, onde pegou e quem morreu primeiro. Neste momento da entrevista “J” tinha os olhos rasos d’água, e não quis prosseguir com a narrativa.
Quem observa o jeito compenetrado de “M” enquanto ela desconta cheques e recebe contas em um banco local, não imagina que seu passado lhe condena e que por traz daquele olhar pacato se esconde uma pessoa fria e calculista.
A vida criminosa de “M” começou quando ela tinha apenas dez anos de idade. Naquela época era a mais velha de um grupo de quatro amigas.
Num certo dia ensolarado, todas saíram para brincar. Cansadas dos mesmos brinquedos, queriam inventar uma nova brincadeira, nesse momento o cérebro sórdido de “M” começou a trabalhar, ela propôs as amigas que roubassem uma toalha de mesa de sua mãe e fizessem uma cabana, as pobres crianças inocentes e influenciadas por “M” aceitaram fazer parte do projeto.
Depois do roubo, “M” levou-as para um lugar mais afastado, próximo a um pequeno descampado, lá colocou seu plano em pratica, com a ajuda das pobres inocentes, recolheu galhos de árvores, gravetos e folhas e ergueu sua cabana. O maior problema, no entanto é que a construção demorou mais do que o esperado, e uma chuva torrencial as atingiu.
“M” gritava a plenos pulmões - Fiquem tranquilas, a cabana é firme.
As pobres vitimas acreditaram em “M”, mas foi preciso apenas alguns minutos para que tudo desmoronasse. A chuva castigava.
Minutos depois “M” foi desmascarada. Sua mãe e as mães das vitimas descobriram seu esconderijo, mas já era tarde demais. A toalha de mesa fora destruída, e as vitimas tomaram muita chuva. Durante vários dias as vitimas sofreram com tosse e resfriado, menos “M” é claro, que antes mesmo de colocar seus planos em prática, havia tomado um antídoto contra a tosse.
Precisamos entender, no entanto, que essas pessoas que deram seus depoimentos, amargaram durante anos o peso da culpa.
Precisamos entender que elas não tinham Playstation, a grande maioria, não morava em apartamentos e nem mesmo podiam usar computador.
Não quero aqui fazer apologia ao crime, mas precisamos dar um desconto a esses pobres infelizes.
Com a evolução surgem novos problemas, mas graças aos novos tempos e a abençoada tecnologia, surgem também as soluções.
Em nosso século vinte e um, essa raça de meliante esta praticamente extinta, é claro que em cidades afastadas dos grandes centros urbanos o problema ainda persiste. Eu mesmo em uma de minhas viagens presencie uma cena que me deixou perplexo. Em pleno terceiro milênio, um pequeno fora da lei - derrubava latas com seu estilingue, enquanto outro se balançava em um pneu amarrado a uma árvore.
Percebi que era hora de voltar para a civilização quando ambos retiraram bolinhas de gude do bolso e se puseram a jogar.

Pois aqui entre nossos arranha-céus e condomínios fechados, esse problema é coisa do passado. Sinceramente não me lembro de qual foi a ultima vez em que uma vidraça foi quebrada, ou que algum vizinho furioso precisou ameaçar furar uma bola.
O projeto paz para todos é muito simples.
Com três ou quatro anos, fazemos um trabalho mental de recompensa. Faça isso, que te dou aquilo.
Entre seis ou sete anos, mesmo que não conheçam as historias de Walt Disney ou da Turma da Mónica, ou mesmo que não saibam ler estarão na segurança de seus lares matando zumbis, e criando Ava tares em seus vídeos- games e computadores.
Na época escolar, vão descobrir que não é roubando giz, que serão descolados e farão parte da turma, às vezes vão precisar desrespeitar um professor ou uma professora, para mostrar para o resto da turma que são corajosos.
Em alguns momentos é fundamental deixar claro para todos os professores (as) que eles são pagos para estarem ali.
Na civilização, nunca houve um caso de roubo de toalha de cozinha. Em algumas raras vezes, ouve boatos de roubo de eletro - eletrônicos e dinheiro da bolsa da mãe, para a compra de Crack, mas eu particularmente não acredito nisso.
Eles começam a beber cedo, algumas meninas de dezesseis anos já são mães, mas acredite está tudo sob controle.
O mais importante, é que os crimes do passado não se repitam. Afinal jovens delinquentes correndo atrás de pneus, jogando bola em campinhos de terra, jogando bolinha de gude, meninas brincando de bonecas de pano que são portadoras de ácaros. Ou mesmo meninos fazendo aquele barulho de tiro infernal, enquanto brincam de policia e ladrão, comendo terra, meninas pegando barro e brincando de fazer comidinha, correndo na chuva, brincando em poças d’água nesses tempos de dengue, isso sim seria o caos.
Mas caso você seja pego (a) em flagrante, com vinte cinco, trinta ou mais assistindo Vila Sésamo e o saudosismo venha te visitar, fique tranquilo (a).
Os tempos mudaram, mas a lei continua a mesma.
E perante a lei, todo mundo é inocente até que se prove o contrario.

P.J.