segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sentidos & Sentimentos.

Sentidos & Sentimentos.

Com as mãos, escrevo.
É a pintura de uma tela inacabada.
É o toque em uma pele macia, é acariciar seu rosto todos os dias.
Pego, largo, afago. Trago para junto, ou afasto.
Conto os dias nos dedos, uma cigana na palma de minhas mãos encontrou todos os meus medos.
Minhas mãos constroem, mas preciso aprender a manusear coisas simples e frágeis, pois as mesmas mãos que constroem também destroem.
Com minha boca eu saboreio, sinto o gosto da vida.
Mordo cada pedaço como se fosse um esfomeado.
Mas com minha boca, eu também minto.
Falo palavras para afagar e falo palavras para machucar.
Com minha boca, sinto sua língua acariciar a minha. Mordo seus lábios e te peço – Me beija novamente.
Com meus pés eu vou e volto.
Vou, porque indo eu me acho, eu conheço, eu busco.
Volto, porque voltando, sei que trago novas coisas comigo.
Vou, porque preciso de vento no rosto, preciso sentir a chuva que escorre pela minha face enquanto corro agradecendo a Deus pela dadiva de estar vivo.
Volto, porque sei que algo me espera.
Vou, porque preciso sair do meio de mim, para assim me enxergar melhor.
Volto, porque depois que me enxergo, faço as pazes comigo mesmo.
Com os meus olhos eu vejo.
Vejo o que todo mundo vê, e vejo também aquilo que ninguém vê, ou talvez aquilo que não queiram ver.
Pelos meus olhos escorre uma gota salgada.
Essa gota já escorreu por dor.
Por saudade.
Por duvida.
Por alegria.
Por tristeza.
E também já escorreu por causa de Deus. Eu não sei o que esse cara tem, mas todas as vezes que falo sério com ele, ele faz essa gota escorrer. Chama-se lágrima.
Com os meus olhos, eu vejo outros olhos. Olhos sinceros, outros nem tão sinceros assim.
Vejo nuvens, vejo o sol se por, vejo as cores e observo tudo atentamente, mas às vezes os próprios olhos enganam, e é ai que preciso do meu coração.
Com meus ouvidos, eu ouço a canção da terra, a anima mundi, me conta seus segredos.
Ouço um barulho de cachoeira ao longe.
Ouço minhas musicas preferidas, e ouço você sussurrando baixinho em meu ouvido – Te amo.
Ouço os trovões que rasgam o céu em dias de tempestade.
Ouço o choro de crianças famintas que precisam de mim e você.
Ouço o lamento dos inocentes que morrem em guerras estupidas todos os dias.
Ouço a guerra suja, que é travada em nome de Deus. Enquanto ouço Deus chorando triste em um canto qualquer, pois não era esse seu plano para nós.
Ouço a lamentação de pessoas decepcionantes, que passarão metade de suas vidas se lamentando e a outra metade se preparando para a morte, e se perguntando por que se lamentaram tanto.
Respiro o ar puro, quando o encontro.
Sinto o cheiro da comida de minha mãe.
Sinto o cheiro do perfume da mulher que amo.
Sinto o cheiro da primavera.
Sinto o cheiro de terra molhada após a chuva.
Meu coração bate para que o sangue circule em minhas veias.
Bate para que eu continue amando.
Bate para que eu sinta medo, preocupação e bate descompassado quando sei que não tenho medo de morrer, mas descobri que a vida é curta demais.
Bate para que eu me lembre, que não vale a pena desperdiçar tempo com mesquinharias, bate para que eu me lembre de que suas batidas não são á toa e preciso cuidar dele.
Entender sentidos e sentimentos é entender que não nos apaixonamos quando desejamos, mas sim quando menos esperamos.
Não recebemos quando queremos, mas sim quando merecemos.
Não aprendemos porque a vida é dura e ensina. Aprendemos porque complicamos tudo por aqui, porém é só depois de nossas complicações, que entendemos como o fácil é bom e bem vindo.
O simples é mais belo do que o cinco estrelas.
O sorriso explica mais do que o sermão.
O perdão nos aproxima mais de Deus do que a vingança.
O sexo é sublime, quando amamos o espirito com quem dividimos essa energia.
Brincar na terra é melhor do que jogar vídeo game no apartamento.
É melhor comer um lanche vagabundo, em uma esquina qualquer quando se está apaixonado do que jantar no melhor restaurante da cidade se tentando manter as aparências.
Eu vou, porque sou cidadão do mundo, e preciso sentir o mundo em mim.
Eu volto, porque faço parte de pequenas coisas. De algumas vidas, e preciso destas vidas e coisas, na mesma medida que elas precisam de mim.
A vida é um eterno ir e vir.
Chegar e partir.
Mas entre sentidos & sentimentos.
Sei que estarei sempre por aqui.
Talvez um dia eu parta para sempre, mas meus pedaços estarão por ai.
Meus sonhos estarão no ar, meus pensamentos estarão escritos, minhas pegadas estarão na terra e na areia dos lugares por onde passei.
Escolhi viver, e acredito que é uma escolha boa.
Talvez um dia eu parta para sempre, mas enquanto esse dia não chega não desejo viver a toa.
Guarde tudo que for bom, simples e belo. Guarde cada momento, pois existe um tempo em nossas vidas que tudo o que importa...
... São os sentidos & Sentimentos.

P.J.S.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O dia em que perdemos o medo.

O dia em que perdemos o medo.

Era um dia comum.
Os sons eram comuns, buzinas e vozes, choro de criança e gritos de adultos.
De maneira súbita o céu escureceu.
Todos fecharam seus olhos e continuaram a caminhar, reparei, porém que agora carregavam um sorriso em seus lábios.
Meus olhos estavam abertos e pude ver a multidão que caminhava de olhos fechados, eles não se esbarravam e desviavam de obstáculos como se estivessem sendo guiados por mãos invisíveis.
Segurei o braço de um senhor que passava ao meu lado, e perguntei-lhe: O que aconteceu? Estão todos andando de olhos fechados!
- Hora meu caro você não sabia? Os seres humanos perderam o medo do escuro – Me disse ele.
E prosseguiu.
- Quando perdemos o medo do escuro, aprendemos a andar pela segunda vez, descobrimos que o escuro pode trazer paz, quando os mestres desejam ensinar meditação, a primeira coisa que pedem para seus discípulos é que fechem seus olhos.
Entendi naquele instante, que quando perdemos o medo do escuro enxergamos a luz com mais facilidade.
Continuei observando aquela cena que para mim era surreal.
Num dado momento eu vi que as pessoas se abraçavam e balançavam seus corpos como se estivessem dançando. Os movimentos eram lentos, comecei ouvir uma canção, a canção era maravilhosa, porém eu não a conhecia.
Pedi novamente a ajuda da mão amiga que me guiava, pois ele estava de olhos fechados, mas o cego era eu.
- Que musica é essa lhe perguntei.
- Chama-se: Between mind and heart, amigo.
- Do que ela fala eu quis saber.
- Ela fala sobre mente e coração, essas pessoas estão se abraçando porque conseguiram juntar as duas coisas. Ouça a letra me disse ele.
- Veja meu amigo, alguém muito sábio resolveu fazer uma musica que nos fala sobre mente e coração. A música nos diz que o coração é o motor do seu corpo, mas o cérebro é o motor da sua vida. Imagine agora se todos pudessem colocar esses dois motores para trabalharem em conjunto – Me disse ele.
- Mas porque não conseguimos isso – Perguntei.
- Não conseguimos porque somos seres cegos e cheios de preconceitos. Nosso bom Deus espera que possamos evoluir, porém isso é cá com nós.
- Nossos motores não funcionam em harmonia meu amigo, porque temos medo de pecar com a mente e sofrer com o coração. Passamos uma vida inteira com medo dos perigos que nos cercam. Temos medo de amar, temos medo de nossos irmãos e temos medo de nossa própria consciência.
- Mas como isso é possível? Como podemos ter medo de nossa própria consciência – Pergunte-lhe.
- É simples meu rapaz, somos orgulhosos, rancorosos e temos egos do tamanho de balões que caso não sejam inflados constantemente murcham, e como imaginamos depender exclusivamente dele murchamos também.
- Veja meu amigo, as pessoas estão dançando porque as diferenças morreram, elas não temem parecer ridículas, elas não sentem medo do escuro e do amanhã, e assim dançam felizes, pois seus motores estão em harmonia.
- Isso pode ser para sempre? Eu insisti.
- Estou de olhos fechados, mas vejo que você é muito jovem – Pois não descobriu ainda que o para sempre não existe.
- Escute com atenção meu amigo, tudo em nossa vida é passageiro, tudo é tênue e frágil, eu e você é que devemos ser fortes.
Enquanto todos dançavam, percebi que os sons foram dando lugar apenas aquela musica, de uma maneira que não posso explicar aqui entendi seu sentido, entendi o ENIGMA.
É difícil encontrar o contrapeso quando você está apaixonado. Você está perdido no meio da causa você tem que se decidir entre a mente e o coração. O coração é o motor de seu corpo, mas o cérebro é o motor de sua vida.
Entre a mente e o coração.
Entre a mente e o coração.
Entre a mente e o coração.
Entendi que o contrapeso é aquilo que tentamos garimpar em nossas vidas.
Entendi que o contrapeso é os dois motores que precisam funcionar em harmonia.
Percebi que todos haviam parado de dançar, mas a musica continuava. Todos voltaram a andar, mas desta vez iam todos na mesma direção.
- Onde eles estão indo? Perguntei.
- Venha, vamos junto – Me respondeu meu novo amigo.
O lugar tinha arvores, as buzinas haviam cessado. O ar era mais puro e o céu mais limpo.
Percebi que o sol estava se pondo. Estávamos perto de um abismo.
Senti-me temeroso, pois todos continuavam de olhos fechados.
- Veja eu disse ao meu amigo. Estamos na beira de um abismo!
- Eu sei me respondeu ele. A beira do abismo é sempre o melhor lugar para se apreciar o por do sol. Descobrimos isso em uma data especial.
- Data especial? Nunca soube de uma data especial em que os homens descobriram que o por do sol era mais bonito de ser visto na beira de um abismo – Eu disse.
- É claro que não soube, pois aconteceu ontem a noticia ainda não se espalhou, mas acredite o ser humano perdeu o medo dos riscos. Perdeu o medo da vida e dos abismos que ela trás consigo.
- Você não imagina meu jovem como a vida pode ser bela quando aprendemos a encarar os riscos sem desviar deles, isso nos torna mais forte, mais determinados e consequentemente mais felizes.
Aprendi então que podemos enxergar melhor no escuro de nossas almas, pois quando fechamos nossos olhos olhamos para dentro.
Aprendi que o motor da mente e do coração funciona melhor quando estão em harmonia.
Aprendi que o risco existe e sempre existirá feliz, no entanto é aquele que o encara sem medo de errar, sem medo de pagar o preço pelos seus erros, ou de ser feliz pelos seus acertos.
Meu bom amigo abriu seus olhos, uma lagrima corria silenciosa.
Eu lhe dei um sorriso e balancei a cabeça em sinal de positivo, para que assim ele entendesse que a lição fora assimilada.
Soltei sua mão.
Fechei meus olhos.
Perdi meus medos.
E fui à busca de meus momentos felizes na beira de um abismo qualquer.

P.J. S.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Porque Amamos

Porque amamos.

Amamos porque amar é verbo.
Eu amo.
Tu amas.
Ele/ ela ama.
Nós amamos.
Vós amais.
Eles/elas amam.
Amamos porque é sublime.
Subimos as nuvens quando estamos amando, suspiramos, desejamos que o dia termine em cinco horas para que possamos ver a pessoa amada, mas quando estamos com a pessoa amada, desejamos que a noite tenha trinta horas.
Amamos os amigos sinceros, amamos a família, amamos o animal de estimação e amamos uns aos outros.
Amamos porque amor não é apenas presente.
Amamos o passado, nossa infância, o primeiro beijo, a primeira namorada (o), a primeira conquista e amamos recordar as boas lembranças que isso nos trás.
Amamos porque o amor é cristão.
O mestre Jesus nos incentivou – Amai-vos uns aos outros.
Amamos porque o amor ensina.
Ensina que podemos errar, ensina que podemos sofrer, porém tudo não passa de experiência para que possamos aprender, e assim amar novamente.
Amamos porque através do amor, países inteiros conquistaram sua independência e sua democracia.
Amamos, mas sabemos que o amor, pode ser doentio, pode ser uma prisão e pode destruir algo que na sombra que é colocada diante da luz, se mostra como um não amor.
Amamos porque é nossa maneira humana de dizer o quanto este ou aquela é importante para nós.
Amamos porque temos pais e mães, e acredite quanto mais o tempo passa, mais os amamos, pois juntamente com o tempo vamos também descobrindo que eles tinham toda razão.
Amamos porque os pintores pintaram o amor.
Os escritores o descreveram em seus contos e poemas.
Amamos porque desejamos acreditar em Shakespeare, queremos acreditar que os Romeus e as Julietas não precisarão tomar veneno no final.
Amamos porque amor pode ser conhecimento.
Amor ao saber, significa Filosofia e absolutamente ninguém se atentou e tentou explicar tanto o assunto amor como os filósofos das antigas escolas.
Amamos porque quando amamos o sol é mais radiante, a lua é mais brilhante, o ar é mais puro e a medicina comprovou que amor faz bem não apenas ao coração, mas ao individuo como um todo.
Amamos porque estamos vivos.
Amamos porque desejamos dividir, somar e conquistar.
Amamos porque queremos andar de mãos dadas.
Amamos porque o Apostolo Paulo nos disse, que mesmo que falássemos a língua dos homens e falássemos a língua dos anjos, sem amor nada seriamos.
Amamos porque o mundo precisa de toneladas deste sentimento.
Amamos porque o homem vive em guerra com o homem.
Amamos porque desejamos ver nossos filhos crescerem em paz.
Amamos porque vimos Madre Tereza se doar por aqueles que nada tinham.
Amamos porque Chico Xavier, disse que o amor é também o caminho para evolução.
Amamos porque os Beatles cantaram em suas canções esse refrão como um mantra.
Amamos porque é isso que Deus espera de nós.
Amamos porque o amor faz parte de nosso espirito, e sem ele estaríamos incompletos, seriamos um projeto sem fino acabamento.
Amamos porque o ódio, as diferenças, a ignorância e a intolerância precisam ser vencidos.
Amamos porque não somos negros, brancos, pardos, mulatos, amarelos ou mestiços.
Amamos porque não somos ricos, pobres, classe A, classe B, classe C ou nova classe media.
Amamos porque não somos gordos ou magros, bonitos ou feios, doces ou sem sal.
Amamos porque somos enfim feitos para isso.
Amamos porque é mais fácil amar, que praguejar.
É mais fácil amar, que desistir.
É mais fácil ficar e amar, do que desistir e partir.
É mais fácil amar e mudar, do que não amar e estagnar.
Amamos porque amor não é opção, é coração.
Amamos porque amor pode ser ilusão, porém também é esperança.
Amamos porque amor pode ser desilusão, mas também é aprendizado.
Amamos enquanto estamos vivos.
Afinal não conheço ninguém que amou depois de enterrado.
Colocarão uma bela placa em sua lapide, mas aquilo não é amor, é despedida.
Se for pra ser amor tem que ser aqui e agora sem medidas.
Sinta, desfrute, chore, se decepcione, aprenda, levante e tente.
Se te perguntarem de repente.
Não se acanhe nem seja leviano.
Responda apenas – Amamos porque amamos.
Ame.

P.J. S