sábado, 20 de abril de 2013

Momentos – III.


Momentos – III.


Seu rosto era pálido, suas roupas estavam puídas e rasgadas.
Seu rosto tinha um tipo de tristeza quase palpável.
A sua volta alguns cachorros estavam deitados, esse tipo de animal tem um tipo de sensibilidade e fidelidade, que provavelmente jamais assimilaremos.
Eu era apenas mais um na multidão, sentei-me naquela praça de uma cidade chamada Piracicaba. Sentei-me porque precisava esperar. Esperar o horário de ir para outro lugar.
Ela não, ela não iria a lugar algum.
Ela me olhou e me dirigiu um sorriso. Não entendi o que o seu sorriso significava, talvez estivesse grata por eu não ter mudado de banco, confesso que os cachorros estavam precisando de banho, mas fiquei assim mesmo.
Ela retirou um pequeno saco de papel de sua sacola, de lá começou a retirar alguns salgados que pude observar pela dificuldade com que os partia, não eram frescos e muito menos estavam quentes.
Pedaço a pedaço foi alimentando os cachorros que a faziam companhia, notei que quando os transeuntes passavam perto demais de seu banco, os cachorros emitiam um rosnado, como se a protegessem.
Pedaço a pedaço, ela alimentava seus amigos, e apenas depois de alimenta-los, começou também a comer alguns pedaços.
Olhou-me mais uma vez, dessa vez levantou a mão, como se dissesse – “Servido?”.
Eu apenas sorri de volta e balancei a cabeça em sinal de negativo.
Eu iria a algum lugar.
Ela não iria a lugar nenhum, seu rosto tinha algo parecido com satisfação. Talvez pelo fato de ter alimento para ela e seus protetores.
Observei que ela não bebia nada, nem mesmo água.
Fui até uma dessas barracas que vendem lanches para os apresados do dia a dia, que não têm tempo para uma refeição decente.
Voltei com uma garrafa de suco que tentei entregar-lhe, mas ao me aproximar ouvi um rosnado e fiquei temeroso.
Provavelmente aqueles cachorros não eram vacinados.
Ela disse que o nome do que havia rosnado era campeão.
Eu apenas sorri.
Ela estendeu seu braço e pegou a garrafa de suco.
Antes de levar à garrafa a boca, remexeu sua sacola que parecia uma caixa de pandora, e retirou de lá uma vasilha de plástico, despejou uma parte do conteúdo e colocou no chão para seus amigos.
Fiquei ali por mais dez minutos talvez.
Ela acendeu a bituca de um cigarro, e tragou duas ou três vezes antes que a bituca começasse a queimar seus dedos.
Campeão se aproximou de mim, dessa vez não rosnava, apenas balançava o rabo e tinha um jeito meio desconfiado, mas seu olhar era amistoso.
Ele é manso – Me disse ela.
Arrisquei, estendi a mão e Campeão se aproximou um pouco mais.
Passei a mão pela sua cabeça, e ele aceitou o carinho.
Eu iria a algum lugar.
Campeão continuaria ali de guarda, protegendo sua também protetora.
Deixei alguns cigarros com ela, e recebi mais um sorriso em troca.
Campeão me observou partir, enquanto balançava o rabo.
Sim, ela era uma moradora de rua.
Sim, seus cachorros eram vira-latas.
Sim, me senti melhor colaborado com um suco e alguns cigarros, mas eu queria mesmo era estar cercado por pessoas mais cachorras e menos humanas.
Por pessoas que dividissem pedaços de salgado velho e duro, mesmo que aquilo fosse seu único alimento do dia.
Conheço pessoas cheias de retorica e belos discursos, mas descobri que sou apaixonado por cachorros que gostam de salgado e suco de laranja.


P.J. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quando for o momento você estará lá?


Quando for o momento você estará lá?

Você tem medo do escuro?
Eu tenho medo de não estar lá.
Você tem medo de se apaixonar rapidamente?
Eu tenho mesmo é medo de não estar lá.
Você tem medo do que vão dizer, e daquilo que vão pensar?
Mas acredite, eu morro de medo mesmo e de não estar lá.
Tenho medo de não poder dizer eu te amo novamente.
Tenho medo de não viver o bastante, para celebrar minha vida e me arrepender das besteiras que fiz.
Para que tanto medo de viver, se o medo já faz sofrer?
Tenho medo de não chegar a tempo para meu casamento, tenho medo que o vinho acabe e a musica não toque.
Tenho medo de não dançar o suficiente.
Tenho medo de não dizer quantos foda-se eu quiser, tenho medo de não ter raiva e indignação suficiente ao ponto de suportar tudo de maneira tão passiva que seja uma quase não vida.
Quero estar lá, talvez doa, talvez não aconteça, mas desejo estar lá para ver um show de coisa alguma.
Quero estar lá totalmente ocupado, ou fazendo nada.
O medo é bom, protege, aguça os sentidos e mantem a mente alerta, mas só o medo não faz vida.
Vida é feita de farinha de trigo com ovos, fermento e um tempo de forno, tenho medo de que meu bolo não fique pronto.

Um ano + uma ruga = A desespero.
Um ano + um amor fracassado = A ninguém me ama.

Tenho medo mesmo, é de pessoas que pensam assim. Veja que as rugas não podem ser evitadas, podem no máximo ser retardadas e as pessoas se retardam e se esticam tanto que também acabam retardadas.
Você nunca verá alguém que morre de amores pelas galinhas, porém elas seguem pondo seus ovos, jamais escreveram um poema ou canção sobre as heroicas vacas, mas elas não cessam de dar leite.
Tenho medo de não estar lá, me sinto ansioso pela próxima chuva, pelo próximo beijo, um pedaço de goiabada com queijo e sussurrar em seu ouvido o quanto te desejo.
Não posso esperar sentado enquanto até mesmo o tempo anda, o vento sopra, a planta cresce e as ondas quebram.
Não consigo me concentrar sem musica, o vinho é minha desculpa e tenho um caso com a madrugada.
Não tenho um pinguim em minha geladeira, mas isso não faz falta, poucos sabem que os avós usavam os pinguins em geladeira como um código secreto para coisas boas escondidas ali dentro.
Eu sei – Você vai dizer que o pinguim representava apenas o frio, e é verdade, mas deixe-me fantasiar um pouco, pois como você eu não estava lá.
Não estamos lá, quando aqueles que nos são caros se vão.
Tenho medo de não alcançar sua mão, tenho medo de me despedir sem um beijo.
Tenho medo de não estar na próxima guerra, sei que é insensato, mas gostaria de erguer uma bandeira branca e dizer: - Venham amigos, temos cervejas e um bom papo, deixemos essa guerra para os homens que estão dentro de gabinetes nos dizendo como devemos morrer.
Não tenho medo de ter medo, apenas tenho medo de não ter medo do medo certo.
Tenho medo de não estar lá, porque sei que a respiração se encurta, os olhos se fecham a vida murcha, a pele perde a cor e o medo se vai.
O medo se vai porque medo é algo consciente e inconsciente. E o consciente e inconsciente são impossíveis se você não esta lá. E acredite você não estará.
Você tem medo de cair?
Então não ande.
Tem medo de errar?
Então não tente.
Tem medo de amar?
Então não exista.
Tem medo de não estar lá?
Então corra, pois o tempo não para meu caro, declare-se, permita-se, assuma-se, descubra-se e pare de imitar a manada, pois o que temos de único é inigualável.
A grande aventura, a grande descoberta é que ninguém é igual a ninguém, agora me diga esse tal de Deus não é mesmo porreta?

P. J. 

domingo, 7 de abril de 2013

CAMINHOS


Caminhos.


Andei, andei, andei...
Através do cosmos em busca dos meus sonhos eu caminhei.
Era você quem eu queria encontrar.
E com toda fé que tenho eu me pus a caminhar.

Era como se fosse uma missão, a cada dia aprendia uma lição,
A cada passo do caminho a cada batida do coração.

Procurei-te em cada esquina, Procurei-te em cada olhar.
Procurei-te em cada pôr do sol, Procurei-te em cada luar.

Andei, andei, andei...
Vários sonhos eu construí, vários sonhos eu sonhei.

Cheguei ha um lugar qualquer e perguntei por você, lá como no resto do mundo não souberam me responder.
Descansei meu corpo sobre o chão e tentei adormecer, a fé que tinha em seu amor, era a razão do meu viver.

Levantei-me logo cedo, e continuei a procurar.
Procurar o caminho dos tolos, que acreditam na vida e tem sede de amar.

Andei, andei, andei...
O sol havia nascido e com ele eu caminhei.


No caminho encontrei flores, que haviam desabrochado,
Sentei-me bem ali, para contemplar sua beleza e sentir o seu perfume.
Admirar as coisas belas se tornou meu mau costume.

Andei, andei, andei...
Vi rios e montanhas, e teu sorriso eu procurei.

Andei, andei, andei...
Não como um peregrino, que caminha em busca da razão.
Andei para buscar a metade que nasceu pra aquecer meu coração.

Já era entardecer quando vi teu rosto no crepúsculo do horizonte, com lágrimas na face vi teus olhos se esconderem atrás dos montes.

E foi assim por muito tempo.
Procurei teu cabelo ondulando a cada vento.
E foi assim em cada curva.
Queria ver teu rosto acariciado pela chuva.

Andei, andei, andei...
Às vezes, o cansaço me fazia refletir, mas um anjo se aproximou de meu ouvido, e me disse que eu não podia desistir e com o farfalhar de suas asas me ajudou a prosseguir.

Depois de muito tempo o cansaço, fez meu coração doer e minha fé enfraquecer, neste momento resolvi que era tempo de voltar.
Mas bastou olhar para trás para teus olhos encontrar.
Quem me dera saber que tipo de luz carrega contigo, pois enquanto clamava teu nome, era tu que caminhavas comigo.

Andei porque precisava amar.
Andei porque precisava aprender o amor certo, e desaprender o amor errado.
Enquanto vivi a tua procura e gritava teu nome, você guardava minhas costas e caminhava ao meu lado.

Andei, andei, andei...
As pedras e tempestades, as desilusões e a dificuldades, não me impediram, de caminhar.
O aprendizado da vida é o pouco que conosco podemos levar.

Andei, andei, andei...
E tudo começa ao se caminhar, nessa terra tudo que é desconhecido, foi feito para se trilhar,
Mas antes vou deixar meus joelhos caírem em terra, e agradecer a Deus pelo dom de procurar.

Andei, andei, andei...


P. J.