quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Confiança.

Confiança.

Essa palavra cara, e em extinção nos dias de hoje perdeu sua humanidade, lembro-me de pessoas de outrora que afirmavam que confiança era uma cadernetinha na venda da esquina, onde se comprava tudo fiado.
Lembro-me da confiança que era transmitida através de um aperto de mão firme um olhar direto.
Mas e agora? O que é confiança? O que ela significa? Confiar como? Confiar em quem?
Como diria Chico Anysio, o mundo moderno é um mundinho merda?
Você não terá escolhas numa sala de cirurgia, é preciso confiar totalmente no médico que fará o procedimento.
Será preciso confiar plenamente em seu advogado, caso contrário à relação cliente advogado não funcionará.
Confiamos em nossos mestres, afinal aqueles que levam o conhecimento até as salas de aula o fazem praticamente de maneira heroica, em um país onde futebol e carnaval estão em primeiro lugar.
Confiamos em nossos pais quando somos crianças. Quando um pai abre seus braços e diz pula, a criança não pensa duas vezes, apenas abre um sorriso e se joga. Ela se joga, pois sabe que nada de mal lhe acontecerá, sabe que aquele pai herói ou aquela mãe heroína estará por perto quando ela precisar.
Essa confiança sublime ou imposta por condições adversas é corriqueira em nosso dia a dia, mas o que dizer da confiança gratuita?
Aquela que entregamos a amigos, familiares e relacionamentos?
Não é preciso entrevistar uma centena de pessoas para se chegar a uma impressão geral do quadro. Observaremos que de cada dez pessoas, pelo menos oito acham difícil confiar nos dias de hoje.
O que aconteceu? Onde essa confiança foi parar?
A verdade é que as pessoas traem, mentem, enganam, dissimulam ou escondem algo o tempo todo.
Os motivos são os mais variáveis possíveis, existe até a expressão chula e descabida de que mentimos para proteger o outro. A pergunta é – E quem protegera o outro de nós?
Mentir, trair, enganar, trapacear, puxar o tapete, falar pelas costas ou simplesmente fingir uma falsa simpatia, é algo que corre na veia humana.
Como pobres animais que somos, crescemos aprendendo a fingir dor para ganhar atenção, fazemos manhã dês de cedo pra ganhar colo.
Jamais quebramos nada, pois aprendemos que o “Não fui eu” pode nos proteger de surras e de castigos.
Temos interesses distintos sobre os outros, quando alguém diz que conheceu um fulano ou beltrano, não perguntamos sobre a pessoa, sua gentileza, se é uma pessoa sociável ou mesmo seus ideais de vida.
Perguntamos onde ela mora no que trabalha e o que possui. Perguntamos isso, como se para a confiança isso realmente fosse importante.
Perguntamos como cegos que não querem ver que nossos piores bandidos usam ternos e gravatas e passam suas férias no exterior.
Perguntamos por que nos comparamos, temos o desejo secreto de saber se aquele alguém tem mais ou menos do que nós, pois é baseado no que se tem que sua cota de respeito aumenta ou diminui.
Dizem que se pode conviver décadas ao lado de alguém e mesmo assim ser surpreendido (a), por uma traição, uma mentira ou mesmo coisas ocultas que não sabíamos sobre ela.
Confiança virou artigo de luxo, custa caro e sua manutenção é periódica.
Ao conquistar respeito e confiança de alguém tenha cuidado sobre o que fará.
Confiança não se ganha duas vezes, respeito não é direito, mas sim merecimento.
Entre mortos e feridos, traidores e traídos, mentirosos e vitimas, vitimas dos outros e de si mesmas, entre enganadores em enganados a roda gira e os papeis se invertem.
Daremos um sorriso, faremos uma reverencia, talvez não suportemos, mas aturemos aquilo, ou aquela situação, pois em primeiro lugar estão os bons modos, a moral e os bons costumes.
Existem perguntas sem respostas, e resposta para as quais ainda não inventaram a pergunta.
Nesse mundo homo sapiens, de pessoas gente boas que vão e vem – Você vai confiar em quem?


P. J.