No principio, criou Deus os céus e a terra. A terra,
porém, estava sem forma e vazia;
Havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de
Deus pairava por sobre as águas.
Disse Deus: Haja luz; e ouve luz.
Foi nesse momento, que todos apertaram a tecla Power
de seus televisores.
Esse foi o principio da guerra pela audiência.
Valia tudo. Explorar a miséria alheia, reformar
casas, mandar aqueles que fizeram o êxodo de volta pra sua terra, trancar
personagens conhecidos ou não em uma casa e deixar o circo pegar fogo, visitar
a casa de famosos e conversar por meia hora sobre a qualidade do mármore ou a
altura do pé direito da mansão.
Tinha guerra de povão, popozudas, dinheiro na cueca
ou na meia, tragédias de todo tipo e brigas entre emissoras.
O mesmo veiculo que fingia informar ajudava a
desinformar.
Tinha o marketing do fique mais bonito dentro
daquele carro, fique mais leve comendo este ou aquele produto, compre já este equipamento
inútil que mudará para sempre a sua vida e frequente lugares de gente bonita
(Particularmente nunca entendi isso, gente feia não entra? E se não entra quais
são os critérios utilizados?)
A coisa chegou a tal ponto que as pessoas passavam
horas em frente deste aparelho fantástico chamado televisão.
Deus estava enfurecido.
Mas a gota d’água foi quando os anjos lhe contaram
que Diabo ou Satanás, como queiram, havia inventado o controle remoto.
Deus, agora muito bravo resolveu mandar todos para
um jardim, e disse: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás.
O Diabo, Satanás ou a Serpente como queiram, que a
tudo observava com sagacidade, veio ter com os homens, e lhes perguntou:
Quereis ser como Deus?
É claro que todos toparam na hora.
E a Serpente, Diabo, Satanás etc... Etc...
Levou todos para comer do fruto proibido chamado
computador.
Esse foi o inicio da vida virtual, em pouco tempo
todos tinham blogs, twitter, instagram e facebook.
Todos tinham perfis descolados, e davam o seu melhor
nas redes.
Mas eis que veio a pirataria, a pedofilia, a
pornografia e era tanta coisa terminando em “ia”, que Deus resolveu acabar com
a farra.
Deus expulsou todo mundo do paraíso por falta de
comunicação, ninguém se falava mais, estavam ocupados demais postando,
compartilhando, curtindo e dando uma espiada na vida alheia.
Deus fez um backup do lugar, baixou um antivírus e
colocou senha nos arquivos.
Disse deus: No suor de teu rosto comerás o teu pão,
até que tornes a terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó
tornarás.
Essas palavras foram duras, uma vez que fora do
jardim a taxa de desemprego não parava de subir e voltar ao pó era um problema,
pois os planos funerários custavam um absurdo.
O primeiro homicídio aconteceu junto com o segundo,
terceiro, quarto e por ai vai.
Como todo mundo sabe Deus é brasileiro e o jardim
ficava no eixo Rio São Paulo, por tanto, balas perdidas, traficantes brigando
pelo controle dos morros e assaltos à mão armada eram comuns.
Deus viu tanta coisa errada que não teve alternativa
decidiu que iria por um fim aquilo tudo.
Chamou Deus Noé, um Pernambucano arretado. (Até hoje
se especula, se o mesmo era ancestral de Noel Rosa).
Disse Deus: Noé construa uma arca gigante, mas não
lhe coloque o nome de Titanic, no futuro saberás o porquê.
E Noé com sua família se puseram a construir a arca.
Construir a arca para Noé e sua família que eram
movidos à rapadura, farinha e buchada foi moleza o problema era colocar um
casal de cada espécie na arca.
Uma das filhas de Noé passou dias procurando um
casal de lagartas, quando finalmente conseguiu encontra-las elas viraram
borboletas.
Um dos filhos teve sérios problemas psiquiátricos,
pois todas as vezes que tentava capturar um casal de Serpentes lembrava-se da
tal Serpente do Paraíso e precisou de meses e meses de análise.
Depois de muito sofrimento e muita perseguição a
arca e os animais estavam prontos.
Deus então fez chover por quarenta dias e quarenta
noites. (Algo muito parecido com alguns meses em São Paulo).
Depois de quarenta dias Noé soltou uma pomba, mas
ela voltou.
Depois de mais alguns dias Noé soltou novamente a
pomba, mas ela regressou novamente.
Esperou Noé mais alguns dias e novamente soltou a
pomba, e desta vez ela não voltou. -- Diacho de pomba esperta - Pensou Noé. Deve
ter achado alguma catedral ou museu e fez um ninho.
Esse foi o inicio de uma nova era e o fim do
dilúvio.
O problema é que depois de descer da arca os homens
se multiplicaram, o que era bom aos olhos de Deus.
Deus só não esperava que eles fossem construir uma
torre com o intuito de chegar até os céus.
Deus resolveu que aquilo já era demais e sabedor de
todas as coisas, sabia que todos ali falavam a mesma língua. Resolveu Deus
então fazer com que falassem línguas diferentes e tal torre jamais foi
concluída, pois os homens simplesmente não entendiam uns aos outros.
Satanás, Diabo, Serpente, Belzebu etc. etc. etc. Aproveitando
o nicho do mercado e investiu em diversas escolas de idiomas.
Desde que tudo começou sempre foi assim. Deus
conserta e constrói o Demônio vai lá e estraga e destrói (Ou Não).
Os planos de Deus no momento são mandar seus santos
anjos tocarem suas santas trombetas do apocalipse e acabar com tudo de vez. Mais
uma vez.
Mas eu penso que talvez nem tudo seja plano de Deus
ou culpa do Tinhoso.
Talvez e apenas talvez tudo que conquistamos de bom
nesta terra seja fruto como disse o próprio Deus; Do suor de nosso rosto.
Talvez quando defendemos os indefesos a luz de Deus
brilhe mais forte sobre nós.
Talvez quando abraçamos nossos irmãos e lhe damos
conforto nas horas difíceis Deus sorri lá de cima.
Mas talvez quando damos as costas a quem precisa uma
trombeta seja tocada.
Quando nossa preocupação é sobre ter e não ser,
talvez um cavaleiro do apocalipse saia a galope.
Isso tudo é só um monte de talvez.
Mas tenho certeza de que Deus não deixou seus anjos
tocarem as trombetas porque acredita em cada um de nós.
Porque espera que tomemos juízo. Espera que nos
amemos e nos tornemos cegos às diferenças que ele mesmo criou.
Pois eu e você podemos colocar nossas mãos juntas ou
separadas para fazer e causar bem e mal, construir ou destruir.
Talvez às vezes as escolhas sejam mais minhas e suas
do que de Deus ou do Diabo.
Pense nisso. Talvez um dia venha a surgir um novo
céu e uma nova terra, um novo paraíso, mas como não fazemos à mínima ideia de
quando isso ocorrerá porque não cuidarmos do que temos aqui e agora?
Acreditamos no Bem porque conhecemos o mal, e
devemos saber que ambos habitam juntos em nosso peito.
P.J.