sábado, 15 de janeiro de 2011

Momentos

Momentos

São Paulo, 10h45min da manhã.
Um terminal lotado de pessoas indo e vindo.
Ônibus, trens e metros abarrotados.
Pessoas conversando no saguão de espera, os televisores ligados transmitem as ultimas notícias e os pombos arrulham em busca de migalhas.
Depois de um café, me retiro para um lugar aberto para fumar um cigarro.
A poucos metros de mim, um jovem casal usa uma grande bolsa de viajem como acento.
Não dou muita atenção ao fato, tenho assuntos para resolver e desejo passar em um bom sebo antes de ir embora, para comprar alguns livros.
Percebo que não existe dialogo entre o casal, os dois apenas se entreolham.
Uma lágrima silenciosa cai vagarosamente pelo rosto da moça, mas ela não emite som algum, apenas continua a olhar para o rapaz.
Agora dei atenção ao fato, a lágrima da moça me lembrou do que ouvi certa vez de um grande amigo. Ele me disse que o choro que cai em silencio é sempre o choro mais sincero.
São Paulo, 11h00min da manhã.
O casal se beija.
Após o beijo eles voltam a se olhar.
Talvez estejam se despedindo penso eu.
O jeito como se olham invocam algo antigo, algo bom e sincero.
Existe um tipo de amor, que dispensa comentários. Parece mesmo que neste tipo de amor os dois amantes se comunicam apenas com um olhar.
Quem nunca sonhou com isso?
Alguém que termine suas frases, alguém que sabe o que você vai dizer apenas pelo seu jeito de olhar, alguém com que se possa sentar em um terminal lotado e barulhento, mas ter nitidamente a impressão que o resto do mundo simplesmente não existe, pois naquele silencio inquebrantável são apenas duas almas que se amam.
Devem ter brigado, e agora estão fazendo as pazes eu imagino.
São Paulo, 11h20min da manhã.
O rapaz se levanta.
A moça continua sentada, mas enquanto o rapaz se afasta, ela o segue com o olhar.
Ele esta de costas e não pode ver, mas ela esta sorrindo para ele.
O rapaz volta para perto da moça, trás consigo um lanche e um refrigerante.
Ele corta o lanche com as mãos e abre a lata de refrigerante, entrega metade do lanche para a moça e lhe oferece a lata de refrigerante com um sorriso no rosto.
Os dois terminaram de comer, ela limpa a boca do rapaz com os dedos, como se este fosse um filho que fez lambança ao comer.
Até este momento nenhuma palavra foi pronunciada.
A moça se aconchega no peito do rapaz, enquanto ele lhe faz cafuné.
Eu imagino há quanto tempo eles devem estar juntos, afinal nesse mundo de relacionamentos relâmpagos e casamentos que duram apenas alguns anos nos tornamos céticos, quando o assunto é relacionamento duradouro.
É impossível observar cenas assim e não imaginar como vai nossa própria vida amorosa.
São Paulo, 11h40min da manhã.
Depois de todo este tempo em silencio, o rapaz diz algo a moça que acena com a cabeça em sinal de positivo.
A moça levanta-se.
Enquanto se afasta o rapaz a segue com os olhos.
A moça esta de costas e não pode ver, mas ele sorri para ela.
Minutos depois a moça volta com uma garrafa d’agua em suas mãos, seu amado agradece com um sorriso e depois de beber, oferece a garrafa para sua amada.
Depois de matar a sede de agua, uma nova sede os assola, desta vez uma sede de beijo.
Eles se beijam no intervalo de cada beijo se olham se acariciam e sorriem um para o outro.
O rapaz pega a mão da moça e encaixa na sua, depois disso beija sua testa.
Acho que um deles vai para um lugar muito distante.
O rapaz me observa.
São Paulo, 12h10min da tarde.
O rapaz se levanta e vem em minha direção.
Seu rosto é pacifico, portanto não me preocupo.
- Boa tarde tudo bem? Pergunta o rapaz.
Eu respondo que sim.
- Será que você poderia me arrumar um cigarro? Ele pede.
Claro eu digo – Coloco a mão no bolso e entrego o maço para que ele se sirva.
- Vai viajar? Ele pergunta, enquanto acende o cigarro.
Estou voltando para casa, moro em uma cidade aqui perto – Eu digo.
- Nós também estamos voltando para casa, eu e minha esposa – Ele me diz.
Depois de alguns momentos de intimidade, acendo também um cigarro.
O rapaz chama sua amada, ela se aproxima e me comprimente, ela nunca me viu, não me conhece, mas me da um abraço.
Conversamos, fumamos alguns cigarros. Deixei o sebo e os livros para depois.
Convidei meus novos amigos para almoçar. Ambos se olharam com uma cara assustada, no momento imaginei que estava sendo ousado demais, mas depois descobri que eles apenas não tinham dinheiro.
Fiz com que tudo parecesse o mais natural possível e disse: Hoje é por minha conta, na próxima você paga.
São Paulo, 12h45min da tarde.
Eu, Marcos e Cristina estamos almoçando, esses são os nomes dos meus novos amigos.
Cristina esta gravida de três meses e trabalha em uma empresa de telefonia, Marcos tem sonho de ser engenheiro, mas por enquanto ganha a vida como auxiliar de escritório.
Compartilho com eles um pouco de minha vida também.
A mãe de Cristina esta preocupada, pois não sabe que tipo de vida este sujeito poderá oferecer a sua filha.
O pai de marcos esta preocupado, pois acha que seu filho deveria ter uma profissão melhor e mais bem remunerada antes de pensar em casar.
Marcos e Cristina estão sorrindo o tempo inteiro, pois estão apaixonados e serão pais.
Depois do almoço, conversamos mais um pouco.
Eu apoio totalmente este tipo de pessoas que mergulham em busca daquilo que sentem gosto dos apaixonados, gosto dos que se arriscam por algo e por isso os encorajo e digo que tudo vai dar certo.
Parabenizo-os pela criança que esta para chegar.
Despedimo-nos, somos amigos, trocamos telefones.
Eles se afastam, mas enquanto se afastam sigo eles com meu olhar pedindo que nosso bom Deus os abençoe.
Eles não podem ver, pois estão de costas, mas eu sorrio para eles.
A mãe de Cristina e o pai de Marcos estão preocupados com aquilo que eles não têm, mas eu estou feliz por saber e conhecer aquilo que eles têm. Amor.
Quando se tem isso, do que mais precisamos?
Quando temos isso, o que existe que não conquistamos?
Cristina e Marcos sejam eternamente felizes esses são os votos do seu novo amigo.
Repito o que disse naquele dia, continuem se olhando e se amando daquela mesma forma e tudo sempre terminará bem.
(OBS) Marcos você me deve um almoço.
Já eu devo um muito obrigado á vocês dois, afinal não é todos os dias que temos a oportunidade de ver algo tão belo.

P.J. S