quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fotos Bonitas.

Fotos Bonitas.

Quando foi que deixamos de acreditar um no outro?
Eu não me lembro em que dia deixei as fotos coloridas, das boas e velhas lembranças se esbranquiçarem e criar mofo.
Sente-se ao meu lado, vamos olhar o álbum da vida.
Veja – Aqui você começou a viver. Essa foto esta em preto e branco, mas seu sorriso coloria tudo em volta.
Eu coleciono fotos da sua época inocente, onde confiar nas pessoas não era um problema.
Lembro-me de uma criança peralta, que dizia que seria bailarina, bombeiro, professora, astronauta, modelo ou médica. Lembro-me de sorrisos ingênuos que dominavam o mundo com perguntas.
Porque o céu é azul? De onde vêm os bebês? Porque não posso brincar na chuva? Porque não posso isso, ou aquilo?
Porque tão cedo deixamos de ser inocente?
Seria porque o mundo é cruel e implacável com sonhadores?
Seria porque descobrimos que o coelho da pascoa não põe ovos?
Seria porque Papai Noel deixa os presentes e vai embora, sem mostrar o rosto, ou porque ele não vai mais as nossas casas e agora fica todo tempo sentado em um trono no shopping Center?
Talvez tenham destruído sua infância, dizendo que todas essas bobagens não existem talvez as pessoas estejam preocupadas com a ceia, talvez o tamanho do peru seja mais importante do que o tal espirito de natal.
Esse espirito nos diz que esse momento é de contemplação e doação ao próximo, é o momento de se fazer um balanço de nossas vidas, pois um novo ano vai começar.
Quando foi que jogamos fora as fotos bonitas de nossas vidas?
Em que ponto do caminho, esquecemos que é mais importante (Ser) do que (Ter)?
Acredite ou não, esse “espirito” deveria fazer parte de nossas vidas todos os dias. Se a questão principal é perdoar, se doar, ajudar e confraternizar com nosso próximo.
Porque precisamos construir uma data para tirar fotos bonitas com a família e os amigos?
As famílias estão acessíveis o ano inteiro, seja por perto, seja através de uma carta, um telefonema ou um e-mail. Pessoas que precisam de um abraço, uma palavra, um amigo ou simplesmente um sorriso cordial nos cercam todos os dias.
É claro que ninguém se aproximará de você dizendo isso.
Aprendemos que precisar dos outros é sinônimo de fraqueza.
Aprendemos que precisamos desconfiar do mundo, para nos mantermos protegidos e intactos.
Quando foi que você tirou sua foto mais bonita? Quem saiu nela junto com você? Ela ainda esta colorida ou já desbotou para vida?
Quando foi a ultima vez que você correu riscos?
O risco de baixar a guarda e se deixar descobrir como você realmente é?
O risco de se apaixonar por algo ou por alguém, sem pensar nos porquês?
O risco de sorrir e sonhar, enquanto te chamam de tolo (a)?
Feliz foto de natal para você.
Espero sinceramente que neste ano, você vá às compras, mas entenda que esse espirito não vem dentro das sacolas.
Não te desejo um feliz natal, afinal esse “feliz” depende mais de você do que do meu desejo.
Não vou te desejar muito dinheiro no bolso, vou te desejar trabalho, afinal sem ele seu bolso estará sempre vazio.
Desejo-te do fundo do coração que no natal, na pascoa, no dia dos pais ou das mães, no ano novo, no dia de seu aniversário, no dia da independência ou da proclamação da republica você seja extremamente feliz.
Desejo que você perdoe e seja perdoado. Desejo que você ame e seja amado. Desejo que você busque e encontre e acima de tudo desejo que você deseje e realize.
Coloque suas fotos bonitas em molduras, jogue fora aquelas nas quais você saiu com cara de sono, ou aquelas onde o grande fotógrafo te pegou desprevenido, guarde com carinho as fotos que te trazem boas lembranças, pois acredite chegará um tempo em nossas vidas que as boas lembranças será um lembrete de que vivemos.
Não espere o espirito de natal te pegar, pois quem precisa pega-lo é você.
Deixe que esse espirito tome conta de você todos os dias.
Acredite não existe perfeição nisso, mas essa fraternidade, essa campanha pelo amor coletivo vale apena. Se esta data nos diz para sermos melhores, mais pacíficos, mais irmãos, mais doadores então que seja natal todos os dias.
Porém se este natal só acontece para você uma vez por ano, você precisa de novas fotos.
Espirito, amor, sentimento, compaixão, fraternidade e doação são coisas invisíveis que carregamos dentro de nós.
Entenda que tudo de bom ou ruim construído pelas mãos dos homens, antes de ser palpável e visível era uma “ideia”. É justamente por isso que dizemos que o poder das pessoas mora em seus corações e em seu cérebro.
Pois somos feitos de ideias, sentimentos e sonhos.
Eu já vi homens construírem armas, vi homens conquistarem impérios, vi homens construírem maquinas e vi homens descobrirem a cura.
Li sobre homens que eram gênios, mas foram expulsos da escola. Chorei quando ouvi a nona sinfonia de Beethoven, mas sei que quando ele a compôs já estava surdo.
Por mais que façam caras e bocas, nenhum humorista dos dias atuais me faz rir como Chaplin, o mais engraçado de tudo isso é que ele não abria a boca.
Observei quadros da renascença, li clássicos da idade média, vi homens derrubarem muros e chegarem até a lua.
Acredite antes de isso tudo acontecer, esses acontecimentos foram trabalhados e processados no campo das ideias e dos sonhos.
Vi um espirito chamado Natal, que se aproximava e sussurrava nos ouvidos: - Seja melhor ame o seu próximo, lembre-se que muitos não terão ceia de natal, alguns estarão na chuva, outros estarão em asilos ou orfanatos. Lembre-se de se lembrar dos menos favorecidos. Lembre-se das boas ideias que precisam ser colocadas em prática.
Lembre-se de comprar sua maquina para tirar belas fotos e guardar boas lembranças.
Segundo a crença, no natal nasceu um homem que talvez nunca tenha comido peru, mas esse natal simboliza seus ideais de amor, compaixão e paz entre os homens da terra.
Feliz natal, com fotos, sonhos e ideias para você.
Eu já vi muita coisa sendo destruída, mas acredite propague esta ideia.
Coisas boas e bons sentimentos nascem de sonhos e ideias.
Podemos derrubar muros e fazer guerras.
Mas não existe um só homem capaz de destruir sonhos e ideias.
Se algo vale a pena em sua vida, cultive-o de dentro para fora.
Pois o que vive dentro de você é indestrutível.

P.J. S

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A vida já te bateu o suficiente?

A vida já te bateu o suficiente?

Antes de continuar falando sobre o senhor Lobo e os três Porquinhos, eu gostaria de escrever algo dedicado a todos que neste momento estão levando uma surra da vida.
Alguns dias surgem, para serem lembrados para sempre, e é desses dias que quero falar.
Quanto de responsabilidade você deseja?
O que tem feito para não ser apenas mais um passageiro desse planeta?
Acredite você não é o que diz ser, você não realiza sonhos pensando e você não caminha ou chega á lugar algum enquanto estiver parado.
Apanhar da vida, se decepcionar com as pessoas e levar alguns tombos são tão fundamentais para a vida como oxigênio.
Saia do lugar mova-se, mude de atitude e de postura.
Começou? – Termine.
Acha que merece? – Vá buscar.
Caiu? – Levante-se.
As lagrimas caíram? – Quando a dor passar dê um sorriso.
Não gosto de lutas, não gosto de boxe, mas sinceramente busco inspiração em tudo aquilo que vejo e vivo para escrever.
Recentemente assisti ao filme Rocky Balboa - Volume V.
Não sou critico de filmes, nem tão pouco sou cinéfilo, mas admiro bons filmes quando estes me dizem algo, ou carregam mensagens que valham a pena.
O que me chamou a atenção nesse filme foi o diálogo que existe entre pai e filho.
O filho de Rocky esta chateado com o pai, pois o fato de ele ter decidido voltar a lutar, se transforma em motivo de piada.
Seu filho lhe acusa, pois segundo seu ponto de vista, as atitudes do pai interferem diretamente em sua vida.
A resposta de seu pai é uma dessas coisas que precisamos ouvir todos os dias.

(Trecho do filme dublado)
- Você não vai acreditar, mas você cabia aqui. (Mostrando a palma de sua mão)
- Eu segurava você, e dizia para sua mãe:
Esse menino vai ser o melhor menino do mundo, esse menino vai ser melhor do que qualquer um que conhecemos. E você cresceu bom, maravilhoso, foi muito legal ver você crescer, foi um privilegio.
Ai chegou a hora de você ser adulto e conquistar o mundo, e você conquistou. Mas em algum ponto desse percurso você mudou você deixou de ser você e agora deixa as pessoas botarem o dedo na sua cara e dizerem que você não é bom, e quando fica difícil, você procura alguma coisa para culpar, como uma sombra.
Eu vou dizer uma coisa que você já sabe.
O mundo não é um grande arco-íris, é um lugar sujo, é um lugar cruel que não quer saber o quanto você é durão. Vai botar você de joelhos, e você vai ficar de joelhos para sempre se você deixar.
Você, eu, ninguém vai bater tão duro como a vida, mas não se trata de bater duro. Trata-se de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando.
É assim que se consegue vencer.
Agora se você sabe o seu valor então vá atrás do que você merece, mas tem que ter disposição para apanhar. E nada de apontar dedos e dizer que você não consegue por causa dele ou dela, ou de quem seja.
Só covardes fazem isso, e você não é covarde.
Você é melhor do que isso.

Gosto deste trecho, pois é possível ver milhares de pessoas todos os dias vivendo em empregos que não gostam, mas permanecem ali, por medo de não ter um salario no fim do mês, por comodismo ou preguiça de buscar novos horizontes.
É possível ver pessoas vivendo relacionamentos fracassados, ou sem um pingo de emoção, simplesmente pelo medo da solidão, ou até mesmo pelo famoso “Ruim com isso, pior sem isso”.
É fácil ver pessoas reclamando por serem desafortunadas, estarem sofrendo, doentes ou em dificuldades.
Mas quem de nos realmente luta pra valer, corre atrás todos os dias?
E acredite-me não falo apenas de correr atrás, de lutar por sonhos e etc...
Falo de fazer isso com um sorriso estampado no rosto, falo de não achar que isso ou aquilo não deu certo por culpa de alguém ou do mundo, quando você tentou errado, tentou pela metade ou nem sequer tentou.
Eu sei como todo o resto do planeta que viver com um sorriso no rosto esta cada vez mais difícil, mas é justamente por isso que precisamos tentar, pois o bem estar tão desejado, esse mundo e essa vida melhor com a qual sonhamos, passa pelas nossas atitudes hoje.
Quem é o culpado (a) pelo seu fracasso?
O mundo?
Seu relacionamento?
Seu emprego?
A profissão que você queria, mas não tem?
A felicidade que você procura, mas não acha?
Fique tranquilo, pois ninguém acha felicidade, pois felicidade não cai do céu com chuva, ou se esconde embaixo de pedras.
Felicidade são momentos bons construídos a duras penas, no entanto são só momentos, pois ninguém constrói momentos eternos, mas podemos trabalhar um pouco todos os dias para tornar esses momentos mais duradouros.
Levante-se.
Pague o preço, faça suas escolhas, caia quantas vezes forem necessárias, mas erga-se e continue.
Como diz o dialogo do filme:
Você não é um covarde.
Você é melhor do que isso.
Dedico esse texto a algumas pessoas maravilhosas e que amo profundamente, mas que às vezes se esquecem do que realmente são feitas e o quanto podem suportar da vida, assim como também trabalhar para criar a vida e o mundo que tanto desejam.
Lutemos então...
... Até o fim.

P.J. S

domingo, 14 de novembro de 2010

Os três porquinhos - Parte I

Os três porquinhos - Parte I

Era uma vez, numa terra muito distante.
Em um lugar muito distante, em uma casinha muito distantes, três porquinhos que viviam muito próximos.
Eles se chamavam: Falador, Sonhador e Descobridor.
Por diversos motivos, eles nunca se entendiam. Falador falava tanto, que em alguns momentos parava e perguntava aos companheiros, sobre o que estava falando, pois as palavras saiam de sua boca ao leu, de maneira que ele sempre se metia em encrenca por falar demais.
Sonhador raramente prestava muita atenção aos discursos de Falador, já que ocupava boa parte de seu tempo sonhando. Ele sonhava com comida, com dias melhores e secretamente sonhava em viver um grande amor.
Descobridor se sentia completamente fora daquele contexto.
- Sou o único que se preocupa com coisas praticas. – Dizia ele.
Descobridor queria conhecer novos mundos, lia livros estranhos, falava sozinho e sempre tinha novas ideias na cabeça, porém todas as vezes que dividia suas ideias, logo ouvia Falador dizer:
- Hora! Isso não pode dar certo, aquilo não vai funcionar etc... etc...
Descobridor meneava a cabeça e suspirava, enquanto Sonhador dizia:
- Nos poderíamos ir até a floresta e pedir a ajuda dos duendes encantados para realizar nossos desejos, ou podíamos dormir no quintal olhando para as estrelas, assim quando uma estrela cadente cair, podíamos fazer um pedido.
Descobridor não sabia de onde podia surgir tamanha estupidez, afinal ele nem sequer acreditava em pedidos para estrelas cadentes.
Num lugar não muito longe dali, existia um Lobo aposentado.
O velho Lobo era professor de História e Filosofia, e ocupava seu tempo escrevendo poemas e fumando seu cachimbo com fumos selecionados.
O velho Lobo conhecia os porquinhos de vista, mas nunca se atreveu a chegar muito perto. Afinal existia um boato de que todo Lobo era mau, quando as pessoas queriam dizer que alguém era falso e dissimulado, diziam que esse alguém era um Lobo vestido em pele de cordeiro, e isso muito irritava nosso velho Lobo.
Certa vez Descobridor, no meio de uma nova descoberta resolveu construir uma maquina para descascar milho, afinal ele adorava milho, mas não tinha muita paciência de tirar sua palha, e justamente por isso tinha sérios problemas intestinais já que engolia a espiga com palha e tudo mais.
No meio de sua invenção, Descobridor descobriu também que não possuía todas as ferramentas necessárias para o projeto, e foi bater a porta do velho Lobo.
Toc, toc, toc.
O velho Lobo ficou assustado afinal não recebia visitas àquela hora. – Seria a Chapeuzinho? Pensou o lobo – Afinal ele e chapeuzinho viviam um tórrido romance.
O velho Lobo fechou seu exemplar do The New York Times e se dirigiu até a porta, qual não foi a sua surpresa quando encontrou Descobridor á sua porta.
- Pequeno porco? O que faz aqui?
- Olá eu sou o Descobridor. Qual é o seu nome?
- Eu me chamo Gabriel, mas pode me chamar de Lobo mesmo.
- Olá senhor Lobo, eu estou no meio de uma invenção e quero saber se o senhor pode me ajudar?
- Que tipo de invenção é essa? – Perguntou com ar desconfiado o Lobo.
- Estou construindo uma maquina que descasca milho. – Disse Descobridor.
- Uma maquina que descasca milho! Hora vejam só que interessante. E em que exatamente eu posso ajuda-lo?
- Preciso de alguns parafusos, e também de uma chave de fenda, pois a cidade fica muito longe e além do mais não tenho dinheiro para compra-los.
- Bem, talvez eu tenha algo que possa te ajudar em meu porão. – Disse o Lobo.
- Obrigado senhor Lobo, eu posso pagar criando algo bonito para enfeitar sua casa.
- Venha, entre – Disse o Lobo.
A casa do nosso Lobo mais parecia uma mistura de biblioteca, tabacaria e museu.
Livros empoeirados, pedaços de folhas pelo chão e estatuetas antigas decoravam o lugar. Um grande quadro na parede chamou a atenção de Descobridor, chamava-se a ultima ceia e estava assinada por um tal de Leonardo Da Vinci, Descobridor não fazia ideia de quem fosse este homem, mas no centro da cena existia um homem simpático de longas madeixas que descobridor reconheceu imediatamente.
- Vejam só, este é o velho Jarbas – Disse Descobridor.
- Jarbas? Quem é Jarbas? – Perguntou o Lobo.
- Hora, Jarbas é nosso grande amigo. Ele nos leva lavagem todas as semanas, ele tem uma taberna perto do vilarejo e todas as sobras ele traz para mim e meus irmãos.

Continua...
P.J. S

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cartas de um homem livre.

Cartas de um homem livre

Minha cela é pequena.
Não posso afirmar que todas as celas deste lugar são iguais, pois quando aqui cheguei, tinha minha cabeça coberta por um capuz.
Existe uma pequena janela voltada para o oriente, daqui posso ver a copa de uma grande árvore, e o sol todos os dias vêm me avisar que é preciso acordar e viver mais um dia.
Não posso dizer exatamente á quanto tempo estou aqui, pois minha mente já entrou em estado de anestesia, onde apenas aceitamos um dia após o outro.
Aqui eu não ouço nenhuma musica, não tenho livros para ler e a única beleza que contemplo é a copa de uma árvore.
Não existe contato visual, pois os guardas colocam minha porção diária de comida através de uma abertura na porta.
Alguns ratos me visitam esporadicamente, guardo sempre um pouco de comida para dar a um deles, afinal assim posso fazer um novo amigo.
Lá fora no mundo real, sei que existem homens que são amigos de ratos.
Em dias ensolarados, os passarinhos sobrevoam a copa da árvore e eu me alegro com aquele belo espetáculo, a distancia não me permite dizer se é uma árvore frutífera ou não, mas sei que devem existir alguns ninhos por lá.
Quando a noite chega à solidão aperta mais um pouco, em dias de céu claro posso ver as estrelas e ouço o barulho das corujas.
Viajo em meus sonhos, pois quando durmo ou quando penso sou um homem livre.
O que esta preso é um corpo, mas os homens jamais conseguirão prender ideias e sonhos.
Tenho todo tempo do mundo para pensar e planejar, mas não planejo uma fuga e não penso em cortar as barras de ferro, é claro que sem as barras eu poderia comtemplar melhor a copa daquela árvore, mas tudo que penso é sobre a vida, tudo que planejo é não morrer aqui.
Sinto saudades do gosto da água, do gosto dos alimentos, do doce das frutas e do beijo daquela que sempre amei.
Certa vez ouvi de alguém mais sábio do que eu, que é quando estamos sós que devemos enfrentar a multidão.
Hoje sei o que este sábio queria me dizer, pois quando estamos sós, estamos com uma multidão de lembranças, uma multidão de decepções e sonhos.
Quando estamos sós, podemos fantasiar e sonhar, mas também podemos nos entregar as coisas dolorosas, pois as lembranças do vento fresco no rosto me fazem chorar e o desejo de ver um campo florido e correr livremente nele, me fazem sonhar.
Meus cabelos estão embaraçados e minha barba por fazer, mas ontem á noite uma chuva forte caiu, com a ajuda do prato que me servem a comida consegui apanhar algumas gotas, com elas lavei meu rosto e senti o cheiro da chuva, o cheiro da terra sendo fecundada pela água.
Esses pequenos milagres se tornam algo maior do que aquilo que eu mesmo sou, pois quando em liberdade caminhando nos campos, eu praguejava contra essa mesma chuva que molhava minhas roupas e sujava de lama minhas botas.
Eu sou um homem livre e por isso ontem a noite fui visitar outras galáxias, vi mundos desconhecidos e lá, estavam pessoas que eu conhecia muito bem.
Em uma de minhas viagens, visitei a minha amada, ela me recebeu com um sorriso e me disse que estava a minha espera. Eu levei-lhe um buque de flores que colhi no campo, tínhamos um bom vinho, conversamos, rimos, bebemos vinho e fizemos amor à noite inteira.
Encostado na parede de minha cela me lembro de uma canção, e começo a assoviá-la, é a canção de minha infância.
A canção diz que não tenho nada a temer, diz que ao lado de todos nós existe um anjo pronto para abrir suas asas e nos proteger é uma bela canção, sim senhor!
Ouço um barulho que conheço bem, a portinhola se abre com aquele barulho de ferrolhos enferrujados, sei que é aquela comida com a qual meu paladar já se acostumou por não ter outra opção.
Mas as mãos que passam por aquela abertura, não deixam ali um prato como de costume, aquelas mãos deixam no chão um pedaço de papel enrolado, aquelas mãos se demoram, como se dissessem – Oi, leia com atenção, pois isso é importante!
Depois que aquelas mãos se retiram me aproximo com cuidado, vejo que o papel é maior do que eu havia imaginado.
Começo a desenrola-lo, no topo lê-se o titulo – Coisas Que Você Prometeu a Si mesmo.
Eu assustado, porém entusiasmado começo a ler.
Prometo que jamais me deixarei aprisionar, pois as maiores e piores prisões são aquelas nas quais estamos livres, mas não agimos por medo e inercia.
Prometo que contemplarei todas as copas das árvores que puder, pois os passarinhos me ensinarão como construir ninhos que suportem ventos e tempestades.
Prometo dedicar algumas de minhas noites ao céu, vou admirar suas estrelas e observar seu movimento cíclico e calmo.
Prometo dedicar noites e mais noites de minha vida a mulher que amo, pois ela merece meu amor sem medidas, sem medos e sem porquês.
Prometo que jamais permitirei que coloquem capuzes sobre minha cabeça, me impedindo assim de enxergar o oriente.
Prometo que aprenderei e mudarei de ideias, porém jamais abandonarei os princípios nos quais acredito e nem tão pouco deixarei que aprisionem minhas ideias e ideais.
Prometo que construirei felicidade com o pouco que tiver em minhas mãos, assim como dividirei esta felicidade com todos aqueles que vagam em busca de beleza e sabedoria como eu.
Depois de ler minhas promessas, tomei nova consciência.
Entendi que em alguns casos a prisão é opcional, entendi que podemos nos tornar prisioneiros de outros e de nós mesmos.
Olhei para o oriente, mas a janela não estava lá, a parede não estava lá, pude ver agora não apenas a copa da árvore, mas a árvore inteira. Pude ver também que era uma árvore frutífera, já não existia muros, já não existia escuridão, já não existia solidão e já não existia prisão.
Caminhando para fora daquela que até então era minha cela, me peguei pensando – Deus como podem construir muros, construir grades e aprisionar pensamentos, sonhos, amores se somos todos enfim...
...Livres.

P.J. S