quarta-feira, 29 de maio de 2013

Momentos – Como escolher Laranjas.

Momentos – Como escolher Laranjas.

Um supermercado qualquer, um dia qualquer, porém um dia de chuva que às vezes é meio melancólico.
Setor de hortifrúti sabe-se lá Deus que horas eram essa informação ficarei devendo, pois minha cabeça não estava para relógios.
Eu apenas escolhia laranjas.
Aproximou-se aquele milagre de Deus, aquilo que acredito ser a comunhão perfeita entre vida vivida e experiência adquirida.
A sua pele sulcada e suas rugas na testa e nos olhos denunciavam algo entre 70 e 80 anos.
Uma moça que estava ao seu lado perguntou – Vó como faço para saber se a laranja esta boa?
A jovem senhora lhe respondeu – Observe ela, apalpe um pouco, sinta se não esta muito mole, cheire para ver se não tem cheiro de podre, mas não dá para saber se esta doce, porque para saber temos que experimentar.
A moça passou a fazer o que sua avó lhe aconselhou.
Observei com mais atenção.
Ela percebeu e me disse – Precisamos escolher afinal não podemos levar coisas podres para casa, muito menos levar algo que precisaremos jogar fora depois. Depois de dizer essas coisas ela me olhou e abriu um sorriso.
Pude observar melhor suas rugas, seus olhos miúdos e seu sorriso largo.
Em tempos de estética avançada, onde se falar em rugas é quase pecado, onde envelhecer pode dar processo, pude observar aquele sorriso maravilhoso com rugas e tudo mais.
Ela continuou sorrindo, e tenho quase certeza que não falava apenas de laranjas, e mesmo que o tenha feito acredito que seu discurso se aplica a cada coisa, cada decisão de nossas vidas.
Não podemos levar coisas podres para casa.
O que você anda levando para casa?
Quantas vezes compramos a preço de ouro uma vida ou uma situação que vale menos que bananas?
Quantas vezes entendemos de maneira dolorosa que compramos, mas não levamos, ou compramos e precisamos jogar fora?
Eu poderia dizer que ela é uma senhora experiente, poderia dizer que suas rugas merecem respeito.
Poderia inclusive elaborar um belo texto sobre como tratar os idosos, poderia formular uma palestra sobre os direitos dessas pessoas por muitas vezes indefesas, mas...
Mas... A verdade é que indefeso sou eu, pois um simples comentário sobre como averiguar a qualidade das laranjas me pós em alerta, me fez pensar sobre minhas coisas podres, meus amigos podres, as religiões podres, os políticos podres e as coisas que levo para minha casa, mas em uma segunda olhada tenho desejo de joga-las fora.
Indefeso somos nós que não sabemos o valor de uma vida bem vivida, pois quando ela esta chegando ao final tudo que possuímos são as lembranças do que levamos para casa e daquilo que compramos sem averiguar sua qualidade.
Aquele sorriso não merece respeito, mas sim uma reverência.
Não sei seu nome, e provavelmente jamais saberei, mas obrigado por ensinar seu método com as laranjas.
Dizem que apenas uma laranja estragada pode estragar um saco inteiro, sendo assim seu método é extremamente importante.
Acredito que quando a hipocrisia social não se mete a besta em dizer o que espera de mim, de meu corpo, de meu comportamento ou quando não me diz o que usar o que comer ou como me vestir, até as rugas ficam bonitas.
Sorri de volta para ela com um aceno de cabeça.
E acredito que rugas podem significar anos vividos.
Não acredito é que experiência se conquiste apenas com idade, pois existe gente com idade sem cérebro e com rabugice de sobra, mas quando aquelas rugas se misturam a um sorriso, fica fácil entender algo sobre a vida.
Quando falo sobre a vida, me refiro às rugas, ao sorriso e aos sábios conselhos, pois ninguém chega aos 70, 80, 90 ou 100 com um sorriso daqueles sem ter passado por uma vida bem vivida.
Ouço conselhos todos os dias, ouço pessoas que fingem possuir certa sapiência, que fazem livre julgamento ou mesmo opinam de maneira livre sobre vidas que não vivem ou pessoas que mal conhecem. Isso realmente me entristece, pois sei que ainda não descobriram que para saber se algo é doce precisamos experimentar, e tenha certeza, a maioria delas não sabe escolher laranjas.


P. J.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Viva de Maneira Saudável.


Viva de Maneira Saudável.

Conheça o mínimo sobre aquilo que vai dizer, pessoas que vomitam opiniões sobre aquilo que não conhecem tendem ao pré-conceito justamente pela falta de conhecimento.
Fumar não é algo saudável, mas se você fuma, faça isso longe dos outros, não é apenas uma questão de educação, mas também de respeito pela saúde do outro.
Ao final do sexo, fique próximo, acaricie sua companheira, diga como curtiu aquele momento. Sair imediatamente após o sexo deixa a impressão de que você acabou de usar algo e mulheres odeiam ser tratadas como objeto, porém se a mulher em questão ficará com seu dinheiro ou esta com você pelo seu carro ou aparência, saia quando quiser, pois essa realmente é um objeto e você é um babaca.
Quando estiver conversando com alguém, e por algum motivo tossir ou espirrar, ao se despedir não aperte a mão da pessoa, explique o motivo ou lave as mãos, pois acredite além de nojento isso causa uma má impressão a seu respeito.
Se alguém estiver com mais pressa do que você, não entre em conflito, seja na fila de um banco ou no transito – Deixe-a passar, acredite você se sentirá melhor, caso não se sinta melhor pelo menos evitou um atrito desnecessário.
Acredite seu Facebook é uma ferramenta de entretenimento e comunicação, se você começar a basear sua vida nas coisas que curtem, comentam ou compartilham sobre você ou sobre o que gosta ai sim seu caso é grave, abandone o Facebook e procure terapia.
Por mais que exista uma sensibilidade nas pessoas, absolutamente ninguém é dotado de poderes extra-sensoriais. Se existe um problema diga, se algo te incomoda converse, se existem diferenças resolva, pois bolas de cristal custam caro e não funcionam.
Entenda que existe uma enorme diferença entre reclamar, se incomodar e resolver.
Geralmente quem reclama demais não resolve.
Quem se incomoda, só reclama.
E quem resolve você reconhece pelas atitudes.
Quer ver o circo pegar fogo? Quer ver conflitos entre o bem e o mal? Quer saber tudo sobre o mundo da alta classe onde os carros são importados e os telefones funcionam no primeiro toque? Deseja ver a mocinha sofredora realizar seu sonho de terminar com o príncipe galã? Assista a uma novela, pois na vida real e melhor que o circo não pegue fogo, é melhor não fingir ser o que não é.
No mundo real príncipes viram sapos, carros são financiados e sua operadora de telefone seja lá qual for é uma merda e custa caro.
Não deposite seus sonhos nas costas de alguém, não sei o tamanho dos seus sonhos, mas acredite todo sonho pode ser pesado se acharmos que temos obrigação de fazer alguém feliz. Felicidade pode ser individual, coletiva ou a dois, mas o esforço deve vir de todos os lados, caso isso não aconteça, no lugar da tão sonhada felicidade você terá uma baita frustração.
Você pode passar por todos os canais de televisão e dizer que não tem nada de bom para assistir, ou pode usar esse mesmo dedo que aperta as teclas do controle para virar a pagina de um livro.
Entenda que existe uma enorme diferença entre protestar, fazer passeata, pedir a paz mundial e exigir seus direitos.
Protestar é mostrar sua indignação com algo ou alguma coisa, mas é bom que essa indignação venha acompanhada de um exemplo de sua parte, ou mesmo uma boa ideia, caso contrário é só mais um palavrório.
Fazer passeata é quando um assunto, um problema ou situação te mobiliza, é quando você acredita na causa, fazer baderna na rua e queimar pneus para fechar ruas só piora a situação e as pessoas que serão prejudicadas não são aqueles que podem resolver a questão, ou seja você esta fazendo isso errado.
Você só pode exigir seus direitos se estiver dando direito aos outros, e mesmo quando for consumidor exija de maneira cautelosa, não humilhe funcionários, fale com tom de voz baixo e pausado, as pessoas confundem exigir direitos com gritaria e berros, e isso não é exigir direitos é assumir papel de escroto (a).
Paz mundial???? Como estão as coisas na sua casa? Porque a paz mundial é algo gigantesco, se não conseguir paz no seu muquifo é melhor deixar a paz mundial cuidar de si mesma e arrumar seu quintal.
Perdoe-me se decepcionei até aqui, afinal começar a ler algo com o titulo “Viva de maneira saudável” Pode ter te levado a pensar em uma dieta da moda, um endereço de academia, uma clinica de cirurgia plástica ou uma daquelas receitas milagrosas que aparecem todo santo dia na TV, nos jornais ou em revistas de gosto duvidoso.
Para que o titulo do texto não caia no vazio vou te dar alguns toques sobre isso.
Beba água, vá ao banheiro todos os dias, pois isso é sinônimo de organismo saudável. Levante sua bunda do sofá e faça uma caminhada leve, coma direito e lembre-se que comer direito inclui frutas e legumes, faça sexo, pois além de ser um ótimo exercício, tira o estresse, reduz pressão arterial, alivia a dor e melhora a imunidade.
Cuide-se, mas cuide-se do seu jeito, não acredite em milagres de farmácia ou um corpo perfeito vendido em capsulas, muito menos em receitas mirabolantes – E finalmente para decepção geral uma última dica – Corpo perfeito não existe, mas bom senso, caráter, respeito, paciência, doação e gentileza existem, só precisam ser usados com mais frequência por todos nós.

P. J. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Creme Para o Corpo


Creme Para o Corpo.

- Eu nunca imaginei que tudo terminaria assim.
Foi isso que ele me disse.
- Já aconteceu outras vezes? – Perguntei.
- Desse modo não, nos últimos anos brigávamos cada vez mais, mas sempre nos entendíamos.
Aconteceram muitas coisas nestes anos, quebrei a chapinha dela sem querer certa vez, usei seu shampoo por engano. Você sabe que sou meio desastrado, uma vez pisei até no rabo do gato dela, mas fiz carinho no bichano e ficou tudo bem.
- Nunca sabemos qual será a gota d’água para elas não é mesmo? – Eu disse.
Na verdade eu disse isso porque não sabia o que dizer, o pobre coitado estava arrasado.
Naquela manhã sua mulher havia saído de casa.
O problema não foi ela sair de casa, pois já tinha feito isso outras vezes, mas como existe o amor e a reconciliação ela sempre voltava para os braços de seu amado, mas agora era diferente dizia meu amigo.
- Tenho certeza que desta vez é definitivo. – Disse ele.
- Mas como pode ter tanta certeza? – Perguntei.
- Hora não é obvio? Sempre que brigávamos eu olhava o guarda-roupas, as maquiagens, as bijuterias e tudo mais, mas desta vez sei que é diferente.
- Quer dizer que ela levou tudo embora?
- Não as coisas estão todas lá.
- Hora então porque tanta preocupação?
- Porque ela deixou tudo para trás, mas o armário do banheiro onde guardava os cremes esta vazio.
Ficamos um tempo em silêncio. Parecia mesmo aqueles gestos fúnebres que fazemos em honra daqueles que se foram.
- Tinha o creme para os pés – Disse ele – Eu adorava vê-la massageando os pés com aquele creme depois do banho.
- Eu sei como é isso, elas ficam lindas passando creme depois do banho.
- Você não esta ajudando muito com esse comentário.
- Me desculpe, eu estava apenas tentando animar sua cara.
- Não me fale em cara, por favor – Lembro-me do creme que ela usava para o rosto – (Ouvi um soluço) Tinha cheiro de pitanga.
- Pitanga realmente tem um cheiro bom, gosto da fruta também é bem macia.
- Macia! Você quer me torturar? Macia era a pele dela – Tinha um creme para o corpo que deixava àquela pele a coisa mais gostosa de ser tocada. Meu Deus que pele.
- Ela chorou antes de partir? – Perguntei.
- Sim, sei que chorou, mas ela tem um creme ótimo que ajuda a atenuar marcas de expressão.
- Que coisa – Eu disse.
- Ela não voltará nunca mais – Afirmou ele.
- Não diga isso, será como das outras vezes, logo estarão juntos e felizes.
- Não. Sei que não será assim. Ela levou o creme esfoliante, e sei que esse ela usa todos os dias.
- Meu Deus – Até o esfoliante – Eu disse perplexo.
- Pois é, acho que desta vez não tem volta. Disse-me ele desconsolado.
- Nada disso, você não pode ficar aqui de braços cruzados rapaz, vá buscar a mulher da sua vida.
- Braços! – Braços! – Ele gritava – Ela também levou esse.
- Esse o que? Perguntei.
- O creme que passava nos braços quando acordava.
- Você precisa se conter, traçar um plano. Escute-me as mulheres sabem que não somos muito bons com essas coisas de pedir desculpas, mas mande flores, convide-a para jantar, faça uma surpresa no trabalho dela, sei lá, mulheres adoram coisas diferentes.
Ela é uma mulher de fibra, é forte, vale a pena lutar por ela rapaz.
- Claro que ela é uma mulher de fibra e forte, ela tem um creme ótimo para tonificar.
Fiquei pasmo, me perguntando quantos cremes aquela mulher possuía.
Fiquei penalizado olhando aquele farrapo de homem a minha frente que soluçava enquanto clamava pela mulher que amava.
- Não importa o tamanho da briga, nem o motivo da discórdia, se uma mulher sai de casa e leva seus cremes acredite é o fim.
Eu não conhecia a teoria de meu amigo, mas achei valida no meio de toda aquela dor.
No meio de tudo, ouvimos o barulho da porta, sua mulher nos encarava, viu as lagrimas e ouviu o soluço daquele pobre diabo.
Acenou com a cabeça me cumprimentado. Ele se apreçou em abraça-la, disse que a amava, disse que lamentava por tudo.
Ela apenas tentava se desvencilhar dele.
- Meu amor você voltou porque me ama? Porque ficaremos juntos para sempre, não é verdade?
Ela olhava para ele sem demonstrar emoção alguma.
Foram os dois para o banheiro.
Fiquei ali sem saber o que fazer com aquele embaraço, e se os dois resolvessem fazer as pazes ali mesmo no banheiro, como eu ficaria ali? Pensei em sair pela tangente sem ser notado, mas dois minutos depois os dois estavam de volta à sala.
Ele sentou-se ao meu lado e ela bateu a porta e saiu.
- Conversaram? – perguntei.
- Ela disse que vamos conversar outra hora – Disse-me ele cabisbaixo.
- Mas ela voltou isso é um bom sinal – Eu disse.
- Sim – Disse ele – Ela esqueceu o creme que usa para o corpo todo.
FIM.

Cuidem de suas mulheres, resolvam as diferenças, provem um pouquinho todos os dias que a ama, cobrem delas apenas aquilo que você dá mulheres não gostam de serem cobradas por aquilo que não recebem.
Faça amor com ela sempre que possível, aperfeiçoe essa técnica, dê todos os beijos que tiver chance durante o dia, mulheres adoram beijos inesperados.
Lembre-se – Amar é algo que se faz um dia de cada vez, com calma, cumplicidade, fidelidade e muita conversa.
E o mais importante, caso sua amada saia de casa e leve todos os cremes – PREOCUPE-SE.

P. J. 

sábado, 4 de maio de 2013

José e a Nuvem.


José e a Nuvem.

José apertou o botão de numero vinte e cinco no painel do elevador.
Todos cumprimentavam José com respeito e admiração, não era pra menos, já que José era o mais alto executivo daquele lugar.
José não dizia nada, mas em segredo gostava daquela bajulação.
Sua maleta tinha cheiro de couro legitimo, seu terno estava impecável como sempre.
Quem o observava, poderia ter facilmente a impressão de que ele havia nascido para aquilo.
Olhar compenetrado, semblante altivo e uma postura que impunha respeito.
E assim José caminhava para aquele que seria o seu primeiro dia naquele prédio.
Após muitos anos de trabalho, José estava ágora subindo os andares de seu sonho mais ambicioso. O edifício era lindo, as janelas tinham vidros espelhados, a recepção tinha mesas de mármore e todos os andares tinham ar condicionado e jardim de inverno.
Estava tudo pronto para receber o Senhor José, como todos o chamavam.
O café estava quente, os biscoitos servidos e meia dúzia de secretarias aguardavam as ordens do dia.
O elevador finalmente chegou ao seu destino, às portas se abrem e um José radiante vai até a sua sala. O próprio José havia elaborado o projeto para aquela sala, era espaçosa e as vidraças eram totalmente transparentes.
- Eu quero ver o mundo aqui de cima – Dizia José.
José gostou daquilo que viu, sua mesa era de madeira de lei, quadros com temas clássicos enfeitavam as paredes, um belo carpete cobria todo o chão e um confortável sofá completava a mobília.
José observava tudo com calma, degustando cada detalhe, inspecionando cada canto e sorrindo por dentro de tanto contentamento.
Até aquele momento sua vida havia sido feita de vitórias, seus sonhos haviam se tornado realidade, seu trabalho e perseverança haviam dado frutos e aquele prédio era a maior prova disso.
Seu prédio, sua empresa e centenas de funcionários ao seu dispor. Cabia a José continuar trabalhando e aumentar o seu império.
José se aproximou das vidraças transparentes de onde podia ver o mundo, mas infelizmente naquela manhã algo saiu errado. A mãe natureza, totalmente desavisada dos planos de José, colocou nuvens enormes no céu impedindo assim que ele comtemplasse o mundo como havia planejado.
José estava sozinho em sua sala, e se perguntava como aquelas nuvens podiam ter o atrevimento de estragar um dia que deveria ser perfeito.
José praguejou contra a nuvem, mas sabia que uma hora elas iriam embora. José sabia fazer-se obedecer, sabia conquistar o que queria, mas quanto às nuvens não havia muito que fazer a não ser esperar que elas se dissipassem e mostrassem um lindo dia ensolarado, para que assim José pudesse contemplar o mundo de seu pequeno mundo.
Mas existem momentos na vida, que não avisam quando vão chegar, pois não estão programados não podem ser calculados ou previstos.
José voltava para sua mesa quando viu sobre ela algo que não tinha colocado ali.
A moldura estava gasta pelo tempo e a foto era em preto e branco, mas José podia identificar facilmente aquele rosto – Era seu pai!
José sentou-se em sua cadeira de couro e segurou aquele pequeno tesouro em suas mãos.
Seu pai era um homem de caráter e José gostaria muito que ele estivesse ali para assistir o seu sucesso, o que infelizmente não era possível, pois aquele homem admirável havia falecido assim que José sairá da Faculdade.
Aquele dia estava planejado para ser um dia de comemorações dos sucessos conquistados, mas olhando a foto de seu velho pai, José pensava apenas em tudo e todos que havia perdido.
Lembrou-se de sua infância e da escola.
Sua família era muito simples e pobre, José ia para a escola com as roupas que eram doadas pelos amigos da família.
O pai de José era funcionário de uma grande empresa, mas era apenas um faxineiro e seu salario era o suficiente apenas para o alimento e as prestações da pequena casa onde viviam. A mãe de José costurava em uma velha maquina e com o pouco que ganhava ajudava o marido com as despesas.
José começou a trabalhar muito cedo e muito cedo aprendeu o significado da palavra dificuldade, era difícil trabalhar e estudar. Mas José tinha aquele tipo de força que move todos aqueles que enfrentam dificuldades, mas não aceitam serem tragados por elas.
José estudou e trabalhou muito, fazia pequenos bicos com seu pai nos fins de semana e juntava algum dinheiro para a faculdade.
A comida era simples, as roupas eram simples, mas os sonhos eram gigantes e como não existe nenhuma critica ou pessoa que consiga derrubar grandes sonhos, José pouco a pouco viu sua vida mudar. Seu pai com muito empenho e muita faxina, conseguiu realizar o sonho de ver José em uma faculdade.
A vida da família estava melhorando, mas uma única coisa nunca mudava, seu pai e sua mãe eram as mesmas criaturas simples de sempre, certo dia depois de conseguir um novo emprego José chegou em casa radiante disposto á levar os pais para jantar fora e comemorar a nova conquista.
Os pais de José é claro se recusaram na mesma hora, sua mãe lhe disse que podiam comemorar ali mesmo, pois havia preparado galinhada seu prato favorito, o pai de José lhe disse que podia se atrapalhar com os talheres de um restaurante, mas concordava em comemorar com aquele lanche que José lhe trazia de vez em quando da rua.
José mesmo com a recusa dos pais, saiu com um sorriso no rosto para buscar o lanche do qual o pai tanto gostava. O lanche era simples, feito com tomate alface e frango, seu pai chamava de lanche da preta, pois se lembrava de que no sitio de seu falecido avô havia uma galinha com esse nome – José gargalhava com as histórias do pai.
Poucos meses após o fim da faculdade, o pai de José faleceu meses depois sua mãe foi ao encontro do esposo.
Em todos esses anos e até aquele momento, José não havia parado realmente para pensar naquilo, e foi assim que José descobriu que precisava chorar.
E chorou, chorou lembrando-se da vergonha que sentia na infância por saber que seu pai limpava banheiros, chorou, pois se lembrou de que entre tantos funcionários não conhecia nem mesmo meia dúzia pelo nome, chorou, pois sabia que tudo que havia conquistado jamais substituiria aquilo que havia perdido – José havia perdido sua humildade.
José chamou uma de suas secretarias e inquiriu dela quem havia colocado aquela foto em sua mesa, pois a ordem não havia partido dele.
A secretaria prometeu que descobriria isso o mais rápido possível, mas ficou preocupada em ver que o patrão tinha os olhos rasos d'água.
José chorava, pelos amigos dos quais tinha se afastado, chorava pelas pessoas que havia magoado enquanto construía seu império.
Minutos depois sua secretaria surge com uma senhora que José não reconheceu de imediato.
Dona Aparecida era uma adorável senhora de sessenta anos, as rugas pelo rosto deixavam transparecer uma vida difícil e pelo uniforme que vestia José não teve duvidas - Dona Aparecida era uma das faxineiras de seu prédio.
- Senhor José, esta é a Dona Aparecida nossa faxineira, ela diz que lhe conhece e diz também que foi ela quem colocou a foto em sua mesa depois que acabou de limpa-la.
José pediu para ficar á sós com aquela pequena mulher de ar assustado.
- De onde a senhora me conhece? – perguntou José.
- Depois que seu pai faleceu, sua mãe ficou muito doente o senhor tinha acabado de terminar seus estudos e não podia ficar em casa, sempre fui vizinha e amiga de sua família e o senhor me convidou para trabalhar em sua casa e cuidar de sua mãe, meses depois infelizmente ela se foi. O senhor me disse que estava montando um pequeno escritório e me ofereceu novamente um emprego, nos últimos dez anos a cada novo escritório eu tenho lhe acompanhado e aqui estou.
- Passei muito tempo com sua mãe, mas conheci pouco o seu pai. Sua mãe falava dele como quem fala de um herói, me falou sobre os sonhos que ele tinha para o senhor e me falava da certeza que ele tinha de que o senhor venceria nesta vida. Foi por isso que achei que o senhor ficaria contente em vê-lo todos os dias sobre a sua mesa.
José não deixou mais a mulher falar, pois sabia que as lagrimas voltariam a qualquer momento.
Pediu para que Dona Aparecida ficasse na sala e chamou vários funcionários, apertou a mão de todos que chegavam e apresentou todos á Dona Aparecida. Deu ordem para que os móveis fossem tirados e levados para um escritório no andar térreo.
Disse para Dona Aparecida que não queria mais olhar o mundo ia se dedicar a olhar as pessoas.
Dona Aparecida não entendeu absolutamente nada, mas ficou feliz quando recebeu um abraço do patrão e desceu pelo elevador com ele e a foto de seu pai.
- Dona Aparecida eu preciso de dois favores – Pediu José.
- Procure, por favor, uma foto de minha mãe, pois os dois faziam um belo par e quero sempre os dois aqui reunidos em minha mesa. O segundo favor e mais simples, é quase hora do almoço e eu gostaria muito de comer um daqueles lanches com alface, tomate e carne de frango, esse lanche me faz lembrar a preta uma galinha de estimação de meu avô.
Dona Aparecida caiu na gargalhada, mas prometeu conseguir o lanche.
José estava na sua sala do piso térreo e olhou pela janela, o céu estava azul e as nuvens haviam se dissipado ele resolveu fazer um passeio por todas as salas de seu prédio, por onde passava recebia um olhar assustado e em troca retribuía com um sorriso nos lábios.
José estava voltando a viver, enquanto seu pai cheio de orgulho lhe observava de cima de sua mesa.
Existirão dias em que as nuvens vão nos impedir de ver o céu, mas podemos sempre ver e admirar as pessoas maravilhosas que fazem parte do nosso mundo.
Algumas nuvens em nosso céu particular podem distorcer uma verdade que precisa ser lembrada constantemente – Não importa para onde você vai, importante mesmo, são os métodos que usa durante o caminho para chegar lá.

P. J.