sábado, 7 de novembro de 2009

As cartas que não foram lidas II


As cartas que não foram lidas II
 
 
Olá meu amor, espero que esteja bem. Sinto saudades.
O trem onde viajo, esta passando agora por uma das mais belas florestas que já vi.
A chuva é fina, os trovões fazem um barulho, que da mais respeito do que medo.
Ouvi certa vez, que o barulho dos trovões é a voz de Deus falando connosco.
Minha viagem chegou ao fim, desço aqui.
Sigo a pé, a chuva se mistura as minhas lágrimas.
Me sinto só.
Queria você por perto.
Sempre tive a postura de guerreiro, aquele que cuidava de tudo e aquele que resolvia tudo.
Mas quem sou eu realmente, sem você cuidando de mim ?
Seu colo, seus carinhos, seu sorriso e até seus defeitos, tudo isso me faz falta.
Meu amor, lembra-se que certa vez estávamos conversando sobre o que acontecia, nos dias de eclipse ?
Ficamos em duvida quanto ao que acontecia, com o sol e a lua. Pois bem agora acho que tenho a resposta.
Eles são parecidos com os humanos, e ficam separados para entenderem o quanto fazem falta, um ao outro.
Quando se encontram, celebram seu amor, tudo fica escuro pois caso ficasse claro, o amor de ambos nos cegariam.
No entanto Deus que é mais sábio que todos, fez com que eles se amassem de tal forma, que seu encontro dura apenas poucas horas, mas são eternamente apaixonados.
Voltam para seu lugar de origem, para iluminar nossos dias e noites, e de vez em quando piscam um para o outro, lembrando o quanto se amam.
Meu amor nesta parte do mundo, existem flores que te deixariam apaixonadas, sei que gosta de flores, você usava sempre uma nos cabelos em ocasiões especiais.
A chuva diminui, o cheiro de terra molhada me faz relaxar, preciso encontrar abrigo e comida.
Me lembro de seus pratos, meu Deus você realmente era uma péssima cozinheira. Sempre sobrava pra mim, você jogava seu charme, e eu caia direitinho. Fomos felizes comendo quase nada e vivendo de quase nada, mas nossas vidas significavam quase tudo, pois tínhamos um ao outro.
Éramos sol e lua em dia de eclipse.
Vejo crianças brincando com as poças de água que sobraram da chuva, me pergunto se um dia poderei observar meus próprios filhos brincando assim, me pergunto se um dia me pegarei também brincando em possas de chuva, com a felicidade que tive em outrora.
As estrelas começaram a aparecer, é outono e o céu esta bem claro, a mistura de luz e trevas do entardecer é mágico. As vezes olho para o horizonte e penso que ele me diz algo em segredo.
Meu amor estou juntando pedras, não sei ao certo para que. Mas por onde passo coloco uma pequena pedra em meu alforje, penso que preciso levar comigo um pouco dos lugares por onde passo, como se fosse uma lembrança.
Minha velha mãe me dizia, que quando saímos pelo mundo e estamos sós, carregar algumas boas lembranças é fundamental para não esquecer de onde viemos.
Sinto falta dela, ela era minha conselheira e meu refugio. Se estivesse aqui, saberia com certeza o que dizer, para acalmar meu espírito.
Meu amor, você devia ter conhecido melhor aquele anjo de Deus.
Seus cabelos eram brancos como as nuvens, e seus olhos eram verdes como esmeraldas. Era uma pequena boneca com postura de titã.
Quantas vezes viajei muitas léguas, apenas para ouvir seus conselhos e receber seus afagos.
Esteja em paz minha heroína, meu anjo minha mãe.
É engraçado como nossa postura muda, quando perdemos pessoas que amamos, elas estão ali, e esquecemos de dizer o quanto elas são importantes para nos, o quanto as amamos, um dia elas se vão, pois é assim com todo mundo. Ficamos sem chão, sem ar, mas a verdade é que elas se foram e não vão voltar mais.
Meu amor, foi pensando nisso que quero dizer o quanto te amo e te respeito, o quanto sua força me ajudou, simplesmente porque em várias ocasiões sua força foi maior que a minha.
Minha mulher, minha amiga, minha fortaleza e minha amante.
Sou forte para as guerras, sou forte para enfrentar o mundo e as dificuldades, mas sou fraco sem você.
A noite chegou rápido, as estrelas depois da chuva tem um brilho especial.
Estou deitado posso ver centenas delas.
Me lembrei de uma canção, consigo ouvir a batida de meu próprio coração.
Tenho certeza que amanhã, será um dia de sol.
Minha querida mãe dizia que um belo dia de sol, é uma chance enfeitada com raios de ouro que Deus nos dá para começarmos tudo de novo.
Ela sabia dessas coisas.
Meu alforje já tem algumas pedras. Sinto que a qualquer momento será tempo de voltar para casa.
Não sei para onde vou voltar, mas quero um canto para chamar de lar, quero você ao meu lado e quero ver nossos filhos brincando em possas de água.
Minha mãe ficara orgulhosa.
Eu quero iluminar seus dias, quero que você ilumine minhas noites. E seremos sempre sol e lua em dia de eclipse.
O sono chega, hoje vou conseguir dormir.
Mas é com alegria, que quando me lembro de minha mãe e você, deixo meu pranto cair.
 
PJS

2 comentários:

Sandra Botelho disse...

Tenho certeza que amanhã, será um dia de sol.
É isso que devemos pensar a cada anoitecer,
por pior que tenha sido nosso dia,
amanhã poderá ser melhor, será melhor. E assim encontraremos sempre forças para continuar.
Amei teu texto.
tennha um lindo final de semana.
Bjos no coração!

Roberta Monise disse...

Sem palavras...

Somente: 'E seremos sol e lua em dia de eclipse!'