terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O dia em que perdemos o medo.

O dia em que perdemos o medo.

Era um dia comum.
Os sons eram comuns, buzinas e vozes, choro de criança e gritos de adultos.
De maneira súbita o céu escureceu.
Todos fecharam seus olhos e continuaram a caminhar, reparei, porém que agora carregavam um sorriso em seus lábios.
Meus olhos estavam abertos e pude ver a multidão que caminhava de olhos fechados, eles não se esbarravam e desviavam de obstáculos como se estivessem sendo guiados por mãos invisíveis.
Segurei o braço de um senhor que passava ao meu lado, e perguntei-lhe: O que aconteceu? Estão todos andando de olhos fechados!
- Hora meu caro você não sabia? Os seres humanos perderam o medo do escuro – Me disse ele.
E prosseguiu.
- Quando perdemos o medo do escuro, aprendemos a andar pela segunda vez, descobrimos que o escuro pode trazer paz, quando os mestres desejam ensinar meditação, a primeira coisa que pedem para seus discípulos é que fechem seus olhos.
Entendi naquele instante, que quando perdemos o medo do escuro enxergamos a luz com mais facilidade.
Continuei observando aquela cena que para mim era surreal.
Num dado momento eu vi que as pessoas se abraçavam e balançavam seus corpos como se estivessem dançando. Os movimentos eram lentos, comecei ouvir uma canção, a canção era maravilhosa, porém eu não a conhecia.
Pedi novamente a ajuda da mão amiga que me guiava, pois ele estava de olhos fechados, mas o cego era eu.
- Que musica é essa lhe perguntei.
- Chama-se: Between mind and heart, amigo.
- Do que ela fala eu quis saber.
- Ela fala sobre mente e coração, essas pessoas estão se abraçando porque conseguiram juntar as duas coisas. Ouça a letra me disse ele.
- Veja meu amigo, alguém muito sábio resolveu fazer uma musica que nos fala sobre mente e coração. A música nos diz que o coração é o motor do seu corpo, mas o cérebro é o motor da sua vida. Imagine agora se todos pudessem colocar esses dois motores para trabalharem em conjunto – Me disse ele.
- Mas porque não conseguimos isso – Perguntei.
- Não conseguimos porque somos seres cegos e cheios de preconceitos. Nosso bom Deus espera que possamos evoluir, porém isso é cá com nós.
- Nossos motores não funcionam em harmonia meu amigo, porque temos medo de pecar com a mente e sofrer com o coração. Passamos uma vida inteira com medo dos perigos que nos cercam. Temos medo de amar, temos medo de nossos irmãos e temos medo de nossa própria consciência.
- Mas como isso é possível? Como podemos ter medo de nossa própria consciência – Pergunte-lhe.
- É simples meu rapaz, somos orgulhosos, rancorosos e temos egos do tamanho de balões que caso não sejam inflados constantemente murcham, e como imaginamos depender exclusivamente dele murchamos também.
- Veja meu amigo, as pessoas estão dançando porque as diferenças morreram, elas não temem parecer ridículas, elas não sentem medo do escuro e do amanhã, e assim dançam felizes, pois seus motores estão em harmonia.
- Isso pode ser para sempre? Eu insisti.
- Estou de olhos fechados, mas vejo que você é muito jovem – Pois não descobriu ainda que o para sempre não existe.
- Escute com atenção meu amigo, tudo em nossa vida é passageiro, tudo é tênue e frágil, eu e você é que devemos ser fortes.
Enquanto todos dançavam, percebi que os sons foram dando lugar apenas aquela musica, de uma maneira que não posso explicar aqui entendi seu sentido, entendi o ENIGMA.
É difícil encontrar o contrapeso quando você está apaixonado. Você está perdido no meio da causa você tem que se decidir entre a mente e o coração. O coração é o motor de seu corpo, mas o cérebro é o motor de sua vida.
Entre a mente e o coração.
Entre a mente e o coração.
Entre a mente e o coração.
Entendi que o contrapeso é aquilo que tentamos garimpar em nossas vidas.
Entendi que o contrapeso é os dois motores que precisam funcionar em harmonia.
Percebi que todos haviam parado de dançar, mas a musica continuava. Todos voltaram a andar, mas desta vez iam todos na mesma direção.
- Onde eles estão indo? Perguntei.
- Venha, vamos junto – Me respondeu meu novo amigo.
O lugar tinha arvores, as buzinas haviam cessado. O ar era mais puro e o céu mais limpo.
Percebi que o sol estava se pondo. Estávamos perto de um abismo.
Senti-me temeroso, pois todos continuavam de olhos fechados.
- Veja eu disse ao meu amigo. Estamos na beira de um abismo!
- Eu sei me respondeu ele. A beira do abismo é sempre o melhor lugar para se apreciar o por do sol. Descobrimos isso em uma data especial.
- Data especial? Nunca soube de uma data especial em que os homens descobriram que o por do sol era mais bonito de ser visto na beira de um abismo – Eu disse.
- É claro que não soube, pois aconteceu ontem a noticia ainda não se espalhou, mas acredite o ser humano perdeu o medo dos riscos. Perdeu o medo da vida e dos abismos que ela trás consigo.
- Você não imagina meu jovem como a vida pode ser bela quando aprendemos a encarar os riscos sem desviar deles, isso nos torna mais forte, mais determinados e consequentemente mais felizes.
Aprendi então que podemos enxergar melhor no escuro de nossas almas, pois quando fechamos nossos olhos olhamos para dentro.
Aprendi que o motor da mente e do coração funciona melhor quando estão em harmonia.
Aprendi que o risco existe e sempre existirá feliz, no entanto é aquele que o encara sem medo de errar, sem medo de pagar o preço pelos seus erros, ou de ser feliz pelos seus acertos.
Meu bom amigo abriu seus olhos, uma lagrima corria silenciosa.
Eu lhe dei um sorriso e balancei a cabeça em sinal de positivo, para que assim ele entendesse que a lição fora assimilada.
Soltei sua mão.
Fechei meus olhos.
Perdi meus medos.
E fui à busca de meus momentos felizes na beira de um abismo qualquer.

P.J. S.

5 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

O dia em que perdemos o medo, começaremos a viver...! lindo demais.
Abraços

Fran disse...

Oi... adorei o texto... um dos mais lindos que você escreveu. Me sinto realmente com medo. Medo do que me espera do lado de fora do portão de casa. Medo do futuro, medo muitas vezes de mim mesma, meus sentimentos, minhas atitudes... por que pensamos assim? bjs

Anônimo disse...

Eai meu jovem...a cada texto seu um ensinamento diferente...continue assim...
abraçosss

Unknown disse...

Maravilhoso o texto, os seus ensinamentos.
Tao longe mais tão perto, aliás dentro de mim.
obrigada por tudo
Bjss...