Você é
consumidor ou esta sendo consumido?
Esta
é sua missão, caso deseje aceitá-la: retorne 30 mil anos numa máquina do tempo.
Encontre
alguns homens Cro-Magnon espertos na França pré-histórica. (Vamos pressupor
que, de alguma maneira, você fale a língua deles).
Explique
para eles nosso moderno sistema de capitalismo de consumo. Descubra o que eles pensam
sobre isso.
A
perspectiva de crescente prosperidade, lazer e conhecimento os motivaria a
inventar a agricultura, a criação de gado, as cidades fortificadas, o dinheiro,
as classes sociais e o consumo exagerado? Ou será que eles prefeririam ficar
estagnados em seu nível de cultura aurignaciano, lascando pedras e pintando
cavernas?
Suponhamos
que você aceite essa missão e viaje ao passado em sua maquina do tempo. Certa noite,
você encontra alguns Cro-Mags e consegue atrair a atenção deles ao distribuir
uma dúzia de canetinhas laser para brincarem. Depois de uma hora, eles sossegam
e você dá o seu recado, explicando que nossa cultura oferece uma vasta
cornucópia de bens e serviços para ostentar, em milhares de novas maneiras, as
qualidades pessoais de uma pessoa a milhões de indivíduos desconhecidos.
É
possível adquirir essas manifestações de mérito pessoal “Comprando-as” com “Dinheiro”
adquirido através de “Trabalho qualificado”.
Você
promete para eles que, se persistirem em sua obsessão de lascar pedras, então,
em apenas alguns milênios, seus descendentes usufruirão de sofisticadas
novidades culturais, tais como lavagem intestinal e You Tube.
O
discurso está ótimo e é hora de aferir a reação deles. Você abre para as
perguntas da plateia.
Um
dos homens adultos dominantes, Gérard, grita de entusiasmo e parece ter captado
bem o espirito da coisa. Contudo, ele tem algumas dúvidas – a maior parte delas
soa terrivelmente machista aos seus ouvidos modernos, mas, já que estão sendo
expressas com curiosidade genuína, você se sente obrigado a responder
honestamente, em prol da objetividade cientifica. Gérard pergunta:
Gérard:
Então, homem do futuro, com essa coisa de dinheiro, eu poderia comprar vinte
jovens inteligentes para parir meus filhos?
Você:
Não, Gérard. Desde a abolição da escravatura, não podemos oferecer genuíno sucesso
reprodutivo na forma de companheiras férteis à venda. Existem prostitutas, mas
elas tendem a fazer uso de métodos contraceptivos.
Gérard:
Bem, então terei de seduzir as mulheres para que queiram procriar comigo, posso
comprar mais inteligência e carisma, maior capacidade para contar historias e
piadas, mais altura e músculos mais fortes?
Você:
Não, mas você pode comprar livros de autoajuda que têm o efeito de placebos e
alguns esteroides que irão aumentar sua massa muscular e sua irritabilidade em
30%.
Gérard:
OK, serei paciente e vou esperar que os meus rivais sexuais morram. Posso comprar
mais cem anos de vida?
Você:
Não, mas com o extraordinário nível dos serviços de saúde, sua expectativa de
vida pode aumentar de 70 para 78 anos.
Gérard:
Essas respostas negativas me aborrecem e estou ficando irritado. Posso comprar
armas avançadas para matar meus rivais, especialmente aquele desgraçado do
Serge e os homens dos outros grupos familiares e clãs, para que possa ficar com
suas mulheres?
Você:
Sim. Uma escolha adequada seria o fuzil Auto Assault-12, que pode disparar
cinco salvas de projéteis altamente explosivos e fragmentáveis por segundo. Ah,
mas eu acho que, provavelmente, seus rivais e outros grupos familiares também
os comprariam.
Gérard:
Então, acabaríamos apenas num outro nível de disputa entre clãs. E haveria mais
brigas letais entre os jovens machos e agressivos dentro do nosso próprio
grupo. Dessa forma, vou me contentar com minha parceira atual, Giselle. Será que
posso comprar sua devoção eterna e orgasmos múltiplos, para que ela nunca me
traia?
Você:
Bem, na realidade, os amantes ainda traem no capitalismo; a incerteza da
paternidade subsiste.
Gérard:
E quanto à mãe e a irmã de Giselle – posso comprar-lhes personalidades mais
gentis, para que critiquem menos meus defeitos?
Você:
Infelizmente, não.
Nesse
momento, Giselle, a astuta parceira de Gérard, interrompe a conversa com
algumas perguntas, respondidas com desalento cada vez maior:
Giselle:
Homem do futuro, eu posso comprar um amante bonito, charmoso e de status
elevado que nunca irá me ignorar, me bater ou me abandonar?
Você:
Não, Giselle, mas podemos lhe oferecer romances que descrevam aventuras
ficcionais com esse tipo de homem.
Giselle:
Posso comprar mais irmãs, que cuidarão dos meus filhos mais novos como se
fossem seus quando eu tiver de me ausentar para colher groselhas?
Você:
Não, as empregadas que cuidam de crianças tendem a ser garotas mal pagas,
mal-educadas e assoberbadas, que preferem mandar mensagem de texto para os
amigos do que cuidar dos filhos de pessoas estranhas.
Giselle:
E quanto aos nossos filhos adolescentes, Justine e Phillipe?
Posso
comprar o respeito e obediência deles, bem como a capacidade para escolherem
boas pessoas como parceiros?
Você:
Não, marqueteiros farão lavagens cerebrais para que seus filhos ignorem sua
sabedoria social e façam sexo com qualquer individuo que use uma roupa da marca
Hollister ou beba Red Bull.
Giselle:
Zut, alors! Mange de la merde et meurs! Esta
coisa de dinheiro parece inútil. Posso, pelo menos, comprar uma carcaça de
mamute que nunca apodreça?
Finalmente,
você vislumbra uma saída e começa a explicar sobre os freezers que alcançam
temperaturas abaixo de zero – mas, então, lembra-se que ainda não existe a
Electricité de France, com seus 59 reatores nucleares para fornecer energia
para o congelamento, e hesita.
A
essa altura, Giselle e Gérard lançam – lhe olhares de desprezo.
O
resto do público está irrequieto e cético; alguns deles até tentam incendiá-lo
com as canetinhas laser. Você tenta recapturar o interesse deles ao explicar
todas as conveniências modernas para acampamentos que o consumismo oferece para
esses alpinistas sociais do passado: óculos escuros, facas de aço, mochilas e tênis
especiais para trilhas, que duram vários meses e que têm um design maneiríssimo
nas laterais.
O
publico se anima um pouco e Juliette, mãe de Giselle, pergunta:
Juliette:
Então, qual é a parada? O que teríamos que fazer para conseguirmos essas facas
e esses sapatos?
Você:
Tudo o que teriam de fazer é ficar sentados em uma sala de aula todos os dias
durante 16 anos para desenvolver capacidades contra intuitivas. Depois, é só arranjarem
um emprego e se deslocarem de casa para o trabalho (E vice-versa) durante
cinquenta horas por semana, por quarenta anos, mantendo funções maçantes em empresas
imorais, longe de parentes e amigos, sem ter qualquer sistema decente de
creche, senso de comunidade, poder político ou contato com a natureza. Ah, e
vocês teriam que tomar remédios especiais para evitar tendências suicidas e ter
mais de dois filhos. Na verdade, não é tão ruim assim. Os detalhes dos sapatos
são realmente maneiros.
Juliette,
a respeitada matriarca Cro-Magnon, olha diretamente em seus olhos e pergunta,
com infinita piedade:
- Você está completamente louco?
Extraído do
Livro Darwin vai às compras – Sexo, evolução e consumo.
Escrito pelo
professor de psicologia e consultor – Geoffrey Miller
Editora – Best Business
ISBN-978-85-7684-422-8
Meu agradecimento
especial a - Rafael Sento Se, responsável pela edição Brasileira que
gentilmente me permitiu a reprodução deste trecho que acredito, seja de extrema
utilidade nesses tempos de consumo desenfreado, onde temos por ter, vivemos por
viver e compramos para tentar ser.
P.J.
S
2 comentários:
Oi amigo, infelizmente hoje estamos sendo consumidos e se não tomarmos sérias atitudes estaremos vivendo em vão e desperdiçando nossos dias... Como disse 'o tempo não pára e passa rápido demais'. Obrigada pelo texto...
Tenha uma ótima semana. Bjs
Somos consumidos, e aceitamos aquilo que nos enfiam goela abaixo.
O mais engraçado de tudo isso, é perceber que a maioria das coisas que são essenciais hoje, nem existiam ontem.
A diferença entre necessário e supérfluo, feio ou bonito, suficiente ou insuficiente e sobre aquilo que esbanjamos ou mesmo jogamos fora, constrói uma linha tênue sobre o que sobra para mim e falta para alguém.
Vou comprar o livro.
Só pra variar você tentando abrir os olhos do mundo.
Beijo meu Super-Homem.
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