domingo, 11 de abril de 2010

Nem sempre um anjo tem asas

Nem sempre um anjo tem asas


Eu era apenas um menino, quando te vi pela primeira vez.
Quando olhei para você, me concentrei em seus cabelos brancos.
Seu sorriso era o sorriso, de alguém que diz: Não se preocupe, eu estou aqui.
Você me observava de longe, como uma espécie de anjo, que vigia um menino levado para que ele não se machuque.
Depois de um tempo, você se aproximou, suas visitas se tornaram constantes.
Um dia te perguntei.
Quem é você ?
E você me respondeu: Eu sou sua mãe.
Eu não entendia absolutamente nada daquilo.
Não entendia, porque quanto mais eu vivo, mais percebo, que só entendemos o que devemos entender no momento certo.
Eu imediatamente comecei a chamá-La de mãe.
Você me cobria de carinhos, de beijos e eu podia ver seu sorriso, agora aquele sorriso, que me dizia: Eu te amo, meu filho.
Os anos se passaram, você nunca me escondeu nada.
Me falou sobre minha vida, meus pais, sobre você e sempre me deixou decidir o que fazer de minha vida.
Mais tarde, eu costumava viajar para te ver.
Seu abraço na minha chegada, era aquele tipo de abraço que cura qualquer ferida, que compensa qualquer esforço.
Meus olhos brilhavam quando eu te via, você era minha heroína do doce caseiro e a única mulher que me fazia sentir medo.
É impressionante como alguém de um pouco mais de um metro e meio, pode impor tanto respeito.
Você tinha o dom de me ensinar e repreender, apenas com um olhar.
Quando eu sabia que tinha feito algo de errado, tinha medo dos seus olhos.
Você foi minha professora de bons modos, me ensinou que mulheres são sensíveis e gostam de rir, me ensinou que ser livre, não significa fazer o que me der na telha e principalmente me ensinou a ter paciência com as pessoas e com o mundo a minha volta.
Você me iniciou na política do mundo, me disse que as pessoas são o que são, com seus defeitos e suas qualidades, me contou historias de pessoas fantásticas, me disse para ser um homem bom e disse que eu sofreria de vez em quando.
Você me ajudou com meus maiores problemas, depois eu descobri, que eles nem mesmo podiam ser chamados de problemas.
Um dia eu te contei isso, e você sorriu, seu sorriso era o de alguém que diz: Eu sabia que ele aprenderia.
Os anos passaram, e mesmo depois de adulto, você era meu Aurélio, meu Norte e acima de tudo minha Mãe.
Seu pequeno corpo foi ficando frágil.
Ficou tão frágil, que em algumas ocasiões te carreguei no colo. Quer saber de uma coisa mãe ?
Eu adorava estas ocasiões. Era como se eu estivesse fazendo para você, um pouco de tudo que você fez por mim.
Eu gostava de te apresentar para as pessoas, e pode ter certeza, elas te amavam a primeira vista.
Talvez fosse seu sorriso, seus olhos ou seus longos cabelos brancos.
Me lembro de cada palavra, de cada aniversário que você fazia questão de passar comigo, me lembro tanto de você, que sinto você ao meu lado enquanto escrevo essas linhas.
Você se foi numa tarde.
Chorei num primeiro momento, mas logo depois me lembrei de seu sorriso e não chorei mais.
Passei a noite me lembrando das vezes em que você brincava comigo.
Das vezes em que me defendeu, me incentivou a lutar pelos meus sonhos e de quando viajamos de avião juntos, você virou a estrela principal daquele vôo. Cheguei a pensar que o piloto ia abandonar o manche para vir te dar um abraço.
Você se foi, mas eu estava ao seu lado e isso tem toda importância do mundo para mim.
Escrevo estas linhas, para que ai de cima, você saiba que sempre te amarei e te guardarei no meu coração.
Enfim, você foi assim, a pessoa que me amou de uma maneira que jamais serei amado.
Me ensinou coisas que nenhuma escola pode ensinar.
Me tornou o sujeito mais metido da terra, justamente por ter uma mãe como você.
Fui feliz por ter você do meu lado.
Sou feliz, pois guardei tudo de bom que representa você.
E serei sempre feliz, pois você me ensinou isso.
Falo sempre de você para as pessoas, algumas se emocionam, outras querem saber mais sobre você e outras as vezes não entendem.
Talvez não entendam porque ainda não descobriram...

Que nem sempre um anjo tem asas.


P.J.S

2 comentários:

Stive disse...

Como sempre, seu textos são sensacionais.
Eu acho que eu sei de quem vc está falando, ou melhor eu sei quem é esse anjo, bom eu acho q sei né
Abração Paulo

Daniel disse...

Linda homenagem. Parabéns Paulo. (Daniel da Porto)