quarta-feira, 9 de março de 2011

A Humanização

A Humanização

Por si só, o título deste texto já me soa estranho. Os leitores do Blog Cia das Palavras entenderão nas linhas abaixo o motivo de tamanha estranheza, ao decorrer-me pelas minhas reflexões, e claro, poderá não concordar com um só palavra aqui impressa.

Antes ainda de continuar por este enredo, devo alertar o querido leitor de que este texto foge um pouco do que estamos acostumados a ver nas paginas deste blog. É um texto mais explicativo de minhas idéias, e a primeiro momento pode parecer enfadonho e entediante por configurar-se assim, diferenciando-o de forma grosseira dos estilos de textos que eu mesmo já postei, ou que meu caro Irmão P.J.S. tem postado com palavras escolhidas a anjo.

Mas enfim, dito o aviso, e eu próprio estando avisado, arrisco-me a lançar ainda sim as frases que seguem:

A humanização dos dias de hoje é um processo estranho e no mínimo configura-se como um pleonasmo da divindade do homem, e uma conjectura sem sentido contra sua própria humanidade.

Vivemos em uma sociedade que criou processos para tudo o que deseja realizar. Nossa cultura está repleta de cálculos bem desenhados e meticulosamente pensados para resultar em um objetivo claro e fixo. Nossa cultura transformou-se nas engrenagens de um relógio, e como tal, nos põe na posição de atuarmos como meras peças de suporte técnico.

Então um belo dia, não mais do que de repente, alguém olhou para nossa sociedade com ares de filosofo intelectual e percebeu que algo faltava. Que algo estava incompleto em meio a tantos processos que fazem caminhar nossa cultura modelo. E esta mesma pessoa, dentro de sua visão “inovadora”, teve uma idéia tão genial quanto sua percepção, e ficou famoso por criar uma das mais estúpidas e cretinas teorias de padrão: A humanização do homem.

Soa estranho, não?

Humanizar algo que, por essência natural, já deveria ser humano. Se pararmos para pensar, isso seria o mesmo que descermos até o fundo dos rios e lagos para ensinarmos os peixes a respirarem pela guelra, ou dizer que vamos ensinar as estrelas brilharem, ou que devemos ensinar ao fogo sobre as propriedades do calor.

Mas este senhor, que ganhou fama e milhões por desenvolver algo tão “novo” e “desconhecido” segue em seu discurso dizendo que devemos humanizar os processos humanos. Devemos olhar para nosso próximo com olhos humanos, devemos agir de forma humana, falar, pensar, caminhar, sorrir, cantar, respirar e existir de forma mais humana. Claro que ele não estava errado em colocar tais pontos como preponderantes em sua teoria. No fundo, acredito que até ele considerava aquilo tudo sem sentido.

Sua visão foi totalmente acertada. Os homens de fato, estão perdendo aos poucos, a sua consciência de HUMANIDADE.

O grande mestre e visionário Charles Chaplin, ou simplesmente Carlitos, já nos alertava sobre isso em sua obra prima “Tempos Modernos”. Ha anos atrás, isso já estava evidente em nossa cultura, e agora, é uma realidade.

Sua visão foi acertada sem dúvida. Porém, seu erro, foi tentar propor uma solução através dos mesmo fator que gerou o problema: Processos. A humanização não cabe dentro de um processo ou fluxograma. Não dá pra escrever manuais ou regras para se humanizar as pessoas. Isso faz parte da essência individual de cada ser humano que caminha pela face deste planeta.

Humanizar alguém é lembrar-lhe de que existem sonhos, existem coisas que nossos olhos não vêem mas nosso coração toca, e mostrar a ele toda a magia e elegância de um por do sol, ou quando os anjos, em suas carruagens de fogo acendem as estrelas uma a uma.

Humanizar não é mostrar Deus ou qualquer outro ser divino que exista. Humanizar é mostrar que cada pessoa pensa por si só, e pode criar como se fosse um pequeno deus. Que pode amar e ser amado, que tem o poder para quebrar as correntes do preconceito, da ignorância e da tirania.

Humanizar é contemplar uma rosa no campo, sem sentir a necessidade de arrancar-lhe da terra e colocá-la em um copo em cima da mesa. Não possuiremos sua beleza ao tomar-lhe da natureza. Humanizar é entender que fazemos parte da beleza natural das coisas.

Ou coisas assim! Mas sem padrões, receitas ou fórmulas.

Criar um processo para a humanização é, no mínimo, criar uma humanização desumanizada.

Nota: Caro leitor, se ainda não assistiu “Tempos Modernos”, sugiro que o faça o quanto antes. É uma forma interessante de divertir-se ao mesmo tempo que aprende uma nova visão sobre nossa cultura social.

2 comentários:

Paulo Joaquim disse...

Ensinar peixes a respirar pelas guelras!
Acredite ou não, podem existir pessoas que imaginam que nada mais precisam aprender.
O mundo dentro de seu aquário de segurança, seu lamaçal de certezas absolutas e finalmente sua falta de coragem de tentar algo novo, sempre lhes garantirá uma vida plena, bela e é claro estupida.
Como diria Oscar Wilde:
Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe.
Parabéns Damásio.
P.J.S.

Fran disse...

Oi amigo, belo texto... obrigada por dividir conosco. bjs bom fim de semana...