segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Era uma Vez...



Eu queria te contar uma historia, eu pensei no tipo clássico – Era uma vez... Etc. etc. etc.
Logo percebi que era uma vez remetia muito ao passado logo no inicio, uma vez, que era uma vez...
Fiquei confuso quanto ao inicio, mas já tinha bolado um grande final – E eles viveram felizes para sempre.
Logo percebi que para sempre é muito tempo, na verdade nem mesmo existe dentro dos termos de nossa parca compreensão.
Fiquei confuso com o fim, mas já tinha bolado um meio excelente – Ele era um herói de seu tempo, um fidalgo, quase um Quixote, uma espécie de Super-Homem.
Logo percebi que os heróis ultimamente não são unanimidade, percebi quer ser herói nos dias atuais é basicamente fazer a coisa certa, pois fazer essa tal coisa certa como simplesmente devolver uma carteira que não é sua, com dinheiro e documentos que não lhe pertencem podem leva-lo a primeira pagina.
Fiquei confuso com o meio, mas tinha umas rimas legais – Rua rimava com lua, Dor rimava com amor e tinha espaço para Flor, Sofrer rimava com Viver, mas Cantar rimava com Amar e Desejo rimava com Beijo. Tentei rimar Sonhar com Realizar, mas logo percebi a distância entre ambos.
Logo percebi que boas rimas não fazem bons contos e que poesia precisa de mais alma do que de letras. E foi assim, sem começo meio ou fim que descobri que nada tinha a contar, mas a musica que tocava em meus ouvidos era boa – Os instrumentos de sopro se harmonizavam com os metais e tinha um piano ao final que consagrava um solo desses que nos fazem viajar e desejar ouvir a canção novamente, mas e se nem todos gostassem do som de pianos?
Fiquei confuso sobre pessoas que não gostam do som de piano, mas cá entre nós existem pessoas que não gostam nem delas mesmas, me preocupei com o piano ao fundo, mas existiam outros instrumentos. Falando em instrumentos, acredito que Deus criou o mundo com musica.
Se prestarmos bem atenção podemos ouvir seus acordes enquanto ondas arrebentam no mar, apurando um pouco mais os ouvidos, podemos ouvir canções inteiras no farfalhar das árvores e no canto dos pássaros. Acredito que somos notas musicais, compomos uma orquestra. É comum sairmos do compasso e levamos anos afinando nossos instrumentos, mas quando conseguimos tocar em harmonia o mundo soa melhor.
Fiquei confuso sobre pessoas que não gostavam de musica, mas minha história também falava de dança. Tinha dança que se dançava só, tinha dança pra dançar abraçado com quem se ama e tinha aquela dança louca que desejamos fazer quando estamos na chuva.
Logo percebi que minha história não serviria para dias de tempestade, pois existem os raios e existem pessoas que têm medo deles. Pensei em colocar na história uma chuva artificial – Seria uma espécie de banho de mangueira com um sorriso nos lábios.
Fico confuso com pessoas que não riem uma vez por dia, seja o riso solto, seja o riso de si mesmo ou até mesmo o riso da tristeza resignada.
Pensei em escrever sobre mim mesmo, mas logo percebi que milhares de pessoas já fazem isso diariamente nas redes sociais.
Fiquei confuso sobre a necessidade de exposição, opinião, ódio e pontos de vistas nem sempre bem fundamentados.
Entendi que o ideal seria escrever uma bela história sobre o inicio de tudo, mas logo percebi que isso aqui ta uma bagunça, o Big Bang pode ser extinto depois do estudo do Quasar, Adão e Eva tornaram-se simplistas demais e Deus continua com seu sorriso no rosto aguardando a próxima sacada genial da humanidade para explicar a si mesma.
Fiquei confuso sobre pessoas que não entendem a si mesmas, mas desejam explicar o universo e a existência de tudo, são parecidos com aqueles parentes que você vê de vez em quando e que não são exemplos de muita coisa, mas possuem excelentes conselhos e soluções para sua vida.
Eu queria te contar uma história, tinha bolado um enredo e até construí dois ou três personagens, fiz uma estrutura funcional dos acontecimentos, mas lembrei-me da vida e de sua falta de estrutura total, lembrei que existem sim coisas programadas, porém em sua grande maioria essa coisa chamada vida chega pra nós ao sabor dos ventos.
Mudei o final, abandonei o meio e esqueci as boas rimas, mas sobrou uma frase que me seduzia, e sendo assim consegui finalmente escrever algo fabuloso. Segue o texto na integra logo abaixo:

Não era uma vez, mas era um dia. Ele ousava ser o que quisesse para viver e assim quem sabe ser feliz para sempre. FIM.



P. J. 

2 comentários:

Fran disse...

Parabéns... lindo texto... encantador como sempre. Bjs

JÉSSICA CARDOSO DE OLIVEIRA disse...

Parabéns!