Dizem por ai que choro virou sinônimo de fraqueza,
que tristeza trata-se com tarja preta e solidão é coisa de gente depressiva.
Dizem por ai que é preciso ter o que mostrar que
gabaritos prontos devem produzir pessoas preparadas para a vida, dizem isso
como se vida fosse uma roupa feita sob medida, e criaturas humanas saíssem de
uma espécie de forma que nos torna todos iguais.
Gosto da chance de errar sem usar manuais, gosto da
possibilidade de virar em cada esquina sem saber o nome da rua ou a previsão do
tempo.
Gosto até mesmo da duvida, mas dizem por ai que
duvida é coisa de gente insegura.
Gosto da solidão, esse momento tão meu, onde a
conversa é cara a cara, o drink é suave e encontro coisas ao meu respeito que havia
deixado num canto qualquer, cheias de poeira e mofo, mas que depois de uma faxina
mental ficam novas em folha.
Dizem por ai, que brigas por partidos políticos talvez
resolvam a política e talvez a falta de democracia em respeitar posições
diferentes politize ás pessoas.
Andam atacando diferenças e crenças, andam
caluniando o que é diferente e abençoado o ódio nosso de cada dia.
A vida, e o tempo que pouco se importam com todas
essas bobagens seguem seu rumo á passos firmes.
A vida fica mais leve por conta das coisas que caem
pelo caminho, coisas que eram de extrema importância já não causam a mesma
pressa, coisas que eram inegáveis são postas em duvida e sentimentos que nos
deixavam acordados fazem parte de uma lembrança qualquer e o sono é tranquilo.
O tempo fica mais curto, o sorriso fica mais fácil.
O desapego e o desinteresse são mais praticáveis e as escolhas são mais
seletivas.
Só mesmo Deus pra ter uma sacada genial dessas,
parece até que estou o ouvindo dizer:
- Vocês ficarão velhos, a pele se enrugará, a coluna
se envergará, seus olhos perderão a acuidade e sua saúde definhará com a morte
celular, mas eu prometo que a cada ano serão mais sábios e mais leves.
Seja pelo amor, pela dor, pela necessidade, pelo
espiritual ou pelo nosso próprio bem estamos condenados a evoluir.
Falo sobre não desejar estar sempre na dianteira de
coisa alguma, numa corrida de cavalos na qual não apostamos.
Falo de não ser pior e nem melhor, mas de ser apenas
o que se é.
Dizem por ai que é preciso se fazer esforço para
isso ou aquilo, mas francamente a preguiça deve ter me pego de jeito.
Não gosto de fazer esforço, gosto de amar de graça,
gosto de aperto de mãos firmes, gosto de amar por um olhar, por conta de um
sorriso ou uma gentileza. Amor e amizade com esforço é comida sem tempero,
sapato apertado, pão sem manteiga, praia sem sol e amizade sem abraço.
E o esforço para ser gentil? Esforço para sorrir?
Esforço para engolir? Esforço para fingir? Sem falar no esforço de trocar de
mascara a cada ocasião, tem gente por ai que vive em clima de carnaval o ano
todo, é um verdadeiro baile de mascaras.
Dizem por ai que é ‘A’ quem esta com a razão, mas
‘B’ foi quem deu a informação, enquanto ‘C’ chegava de mansinho na contramão e
foi justamente por isso que ‘D’ não conteve sua indignação, falou mal de ‘E’
que da história não sabia um tostão, pois estava preocupado com ‘F’ que quebrou
seu coração.
Dizem por ai que sabem exatamente do que você
precisa para ser feliz, do que você precisa para superar toda sorte de
adversidades e medos. Dizem inclusive que existe uma espécie de passo a passo,
uma receita, uma seta e direção. Falta só dizer quem criou mais esse tipo de
alienação.
Se for preciso uma dose de sofrimento sofra e purgue
ele de dentro para fora, se é necessário lágrimas, deixe que caíam. Se for
necessária uma higiene mental ou espiritual faça a sua maneira, mas não deixe
de purgar, não engula coisas que te envenenam aos poucos, e te matam
lentamente.
Somos assim, guerreiros e destemidos, covardes e
amedrontados. Hora protetores e hora aqueles que precisam de proteção, somos
heróis e vilões, mocinhos e bandidos e no final das contas estamos tentando
acertar um alvo que só é visto por nós mesmos.
Dizem por ai que é melhor confiar desconfiando,
andar pela sombra, que seguro morreu de velho, que gato escaldado tem medo de
água fria e macaco velho não põe a mão em cumbuca. É como um dia de campeonato, o estádio esta
lotado, os times preparados e as bandeiras tremulam ao vento, mas o placar é
1x0 para a vida antes do inicio da partida.
Não é o que dizem que me preocupa tanto, mas a velha
pergunta do poeta Leandro Gomes de Barros que questiona:
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?
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