terça-feira, 14 de setembro de 2010

José e a nuvem.

José e a Nuvem.

José apertou o botão de numero cinquenta e oito do elevador.
Todos cumprimentavam José com respeito e admiração, não era pra menos, já que José era o mais alto executivo daquele lugar.
José não dizia nada, mas em segredo gostava daquela bajulação.
Sua maleta tinha cheiro de couro legitimo, seu terno estava impecável como sempre.
Quem o observava, poderia ter facilmente a impressão de que ele havia nascido para aquilo.
Olhar compenetrado, semblante altivo e uma postura que impunha respeito.
E assim José caminhava para aquele que seria o seu primeiro dia naquele prédio.
Após muitos anos de trabalho, José estava ágora subindo os andares de seu sonho mais ambicioso. O edifício era lindo, as janelas tinham vidros espelhados, a recepção tinha mesas de mármore e todos os andares tinham ar condicionado e jardim de inverno.
Estava tudo pronto para receber o Senhor José, como todos o chamavam.
O café estava quente, os biscoitos servidos e meia dúzia de secretarias aguardavam as ordens do dia.
O elevador finalmente chegou ao seu destino, as portas se abrem e um José radiante vai até a sua sala. O próprio José havia elaborado o projeto para aquela sala, era espaçosa e as vidraças eram totalmente transparentes.
- Eu quero ver o mundo aqui de cima – Dizia José.
José gostou daquilo que viu, sua mesa era de madeira de lei, quadros com temas clássicos cobriam as paredes, um belo carpete cobria todo o chão e um confortável sofá completava a mobília.
José observava tudo com calma, degustando cada detalhe, inspecionando cada canto e sorrindo por dentro de tanto contentamento.
Até aquele momento sua vida havia sido feita de vitórias, seus sonhos haviam se tornado realidade, seu trabalho e perseverança haviam dado frutos e aquele prédio era a maior prova disso.
Seu prédio, sua empresa e centenas de funcionários ao seu dispor. Cabia a José continuar trabalhando e aumentar o seu império.
José se aproximou das vidraças transparentes de onde podia ver o mundo, mas infelizmente naquela manhã algo saiu errado. A mãe natureza, totalmente desavisada dos planos de José, colocou nuvens enormes no céu impedindo assim que ele comtemplasse o mundo como havia planejado.
José estava sozinho em sua sala, e se perguntava como aquelas nuvens podiam ter o atrevimento de estragar um dia que deveria ser perfeito.
José praguejou contra a nuvem, mas sabia que uma hora elas iriam embora. José sabia se fazer obedecer, sabia conquistar o que queria, mas quanto as nuvens não havia muito o que fazer a não ser esperar que elas se dissipassem e mostrassem um lindo dia ensolarado, para que assim José pudesse contemplar o mundo de seu pequeno mundo.
Mas existem momentos na vida, que não avisam quando vão chegar, pois não estão programados não podem ser calculados ou previstos.
José voltava para sua mesa quando viu sobre ela algo que não tinha colocado ali.
A moldura estava gasta pelo tempo e a foto era em preto e branco, mas José podia identificar facilmente aquele rosto – Era seu pai!
José sentou-se em sua cadeira de couro e segurou aquele pequeno tesouro em suas mãos.
Seu pai era um homem de caráter e José gostaria muito que ele estivesse ali para assistir o seu sucesso, o que infelizmente não era possível, pois aquele homem admirável havia falecido assim que José sairá da Faculdade.
Aquele dia estava planejado para ser um dia de comemorações dos sucessos conquistados, mas olhando a foto de seu velho pai, José pensava apenas em tudo e todos que havia perdido.
Lembrou-se de sua infância e da escola.
Sua família era muito simples e pobre, José ia para a escola com as roupas que eram doadas pelos amigos da família.
O pai de José era funcionário de uma grande empresa, mas era apenas um faxineiro e seu salario era o suficiente apenas para o alimento e as prestações da pequena casa onde viviam. A mãe de José costurava em uma velha maquina e com o pouco que ganhava ajudava o marido com as despesas.
José começou a trabalhar muito cedo e muito cedo aprendeu o significado da palavra dificuldade, era difícil trabalhar e estudar. Mas José tinha aquele tipo de força que move todos aqueles que enfrentam dificuldades, mas não aceitam serem tragados por elas.
José estudou e trabalhou muito, fazia pequenos bicos com seu pai nos fins de semana e juntava algum dinheiro para a faculdade.
A comida era simples, as roupas eram simples, mas os sonhos eram gigantes e como não existe nenhuma critica ou pessoa que consiga derrubar grandes sonhos, José pouco a pouco viu sua vida mudar. Seu pai com muito empenho e muita faxina, conseguiu realizar o sonho de ver José em uma faculdade.
A vida da família estava melhorando, mas uma única coisa nunca mudava, seu pai e sua mãe eram as mesmas criaturas simples de sempre, certo dia depois de conseguir um novo emprego José chegou em casa radiante disposto á levar os pais para jantar fora e comemorar a nova conquista.
Os pais de José é claro se recusaram na mesma hora, sua mãe lhe disse que podiam comemorar ali mesmo, pois havia preparado galinhada seu prato favorito, o pai de José lhe disse que podia se atrapalhar com os talheres de um restaurante, mas concordava em comemorar com aquele lanche que José lhe trazia de vez em quando da rua.
José mesmo com a recusa dos pais, saiu com um sorriso no rosto para buscar os lanches dos quais o pai tanto gostava. O lanche era simples, feito com tomate alface e frango, seu pai chamava de lanche da preta, pois se lembrava de que no sitio de seu falecido avô havia uma galinha com esse nome – José gargalhava com as histórias do pai.
Poucos meses após o fim da faculdade, o pai de José faleceu meses depois sua mãe foi ao encontro do esposo.
Em todos esses anos e até aquele momento, José não havia parado realmente para pensar naquilo, e foi assim que José descobriu que precisava chorar.
E chorou, chorou lembrando-se da vergonha que sentia na infância por saber que seu pai limpava banheiros, chorou, pois se lembrou de que entre tantos funcionários não conhecia nem mesmo meia dúzia pelo nome, chorou, pois sabia que tudo que havia conquistado jamais substituiria aquilo que havia perdido – José havia perdido sua humildade.
José chamou uma de suas secretarias e inquiriu dela quem havia colocado aquela foto em sua mesa, pois a ordem não havia partido dele.
A secretaria prometeu que descobriria isso o mais rápido possível, mas ficou preocupada em ver que o patrão tinha os olhos rasos d’agua.
José chorava, pelos amigos dos quais tinha se afastado, chorava pelas pessoas que havia magoado enquanto construía seu império.
Minutos depois sua secretaria surge com uma senhora que José não reconheceu de imediato.
Dona Aparecida era uma adorável senhora de sessenta anos, as rugas pelo rosto deixavam transparecer uma vida difícil e pelo uniforme que vestia José não teve duvidas - Dona Aparecida era uma das faxineiras de seu prédio.
- Senhor José, esta é a Dona Aparecida nossa faxineira, ela diz que lhe conhece e diz também que foi ela quem colocou a foto em sua mesa depois que acabou de limpa-la.
José pediu para ficar á sós com aquela pequena mulher de ar assustado.
- De onde a senhora me conhece? – perguntou José.
- Depois que seu pai faleceu, sua mãe ficou muito doente o senhor tinha acabado de terminar seus estudos e não podia ficar em casa, sempre fui vizinha e amiga de sua família e o senhor me convidou para trabalhar em sua casa e cuidar de sua mãe, meses depois infelizmente ela se foi. O senhor me disse que estava montando um pequeno escritório e me ofereceu novamente um emprego, nos últimos dez anos a cada novo escritório eu tenho lhe acompanhado e aqui estou.
- passei muito tempo com sua mãe, mas conheci pouco o seu pai. Sua mãe falava dele como quem fala de um herói, me falou sobre os sonhos que ele tinha para o senhor e me falava da certeza que ele tinha de que o senhor venceria nesta vida. Foi por isso que achei que o senhor ficaria contente em vê-lo todos os dias sobre a sua mesa.
José não deixou mais a mulher falar, pois sabia que as lagrimas voltariam a qualquer momento.
Pediu para que Dona Aparecida ficasse na sala e chamou vários funcionários, apertou a mão de todos que chegavam e apresentou todos á Dona Aparecida. Deu ordem para que os móveis fossem tirados e levados para um escritório no andar térreo.
Disse para Dona Aparecida que não queria mais olhar o mundo ia se dedicar a olhar as pessoas.
Dona Joana não entendeu absolutamente nada, mas ficou feliz quando recebeu um abraço do patrão e desceu o elevador abraçada com ele e a foto de seu pai.
- Dona Aparecida eu preciso de dois favores – Pediu José.
- Procure, por favor, uma foto de minha mãe, pois os dois faziam um belo par e quero sempre os dois aqui reunidos em minha mesa. O segundo favor e mais simples, é quase hora do almoço e eu gostaria muito de comer um daqueles lanches com alface, tomate e carne de frango, esse lanche me faz lembrar a preta uma galinha de estimação de meu avô.
Dona Aparecida caiu na gargalhada, mas prometeu conseguir o lanche.
José estava na sua sala do piso térreo e olhou pela janela, o céu estava azul e as nuvens haviam se dissipado ele resolveu fazer um passeio por todas as salas de seu prédio, por onde passava recebia um olhar assustado e em troca retribuía com um sorriso nos lábios.
José estava voltando a viver, enquanto seu pai cheio de orgulho lhe observava de cima de sua mesa.

Em alguns dias as nuvens vão nos impedir de ver o mundo, mas podemos sempre ver e admirar as pessoas maravilhosas que fazem parte do nosso mundo.

P.J.S

4 comentários:

Stive disse...

Belo texto Paulo, infelizmente quantas pessoas que coseguem realizar os seu sonhos conquistão bens formam patrimonios, mais se esqecem que o maior patrimonio é ter sempre com sigo, a sua verdadeira essencia, a essencia do carater, da dignidade da simplicidade e tantas outras que ajudam a construir pessoas de bens, não digo de bens materiais hein rsrsrs
Abração e parabéns por mais um texto maravilhoso

Fran disse...

Oi... são raras as pessoas que conseguem ser humildes. Olhamos tanto pro próprio umbigo, queremos ser melhores, sempre competindo com os outros. Mas eu ainda conheço pessoas humildes e acredito no ser humano... bjs lindo texto...

Unknown disse...

Pois é...meu blog é recem nascido ainda...mas gatinha devagar...qdo eu crescer, prometo melhorá-lo ainda mais!
O que vale mesmo nessa história é essa troca de riquezas que podemos fazer....vc, eu e milhões de pessoas interagindo com palavras de fé..amor...sonhos....devaneios...e perceber que o que cada um de nós desesperadamente procuramos é o mesmo que o outros....PAZ...AMOR...DEUS!
não é?
Obrigada vc pela visita...seja sempre bem vindo, e quando quiser, deixe sua opinião! bjo grande!

Cadinho RoCo disse...

O mundo dá muitas voltas.
Cadinho RoCo